última atualização 09-01-2023

Exercício - Fotografia do Invisível

Em um mundo que levou o visível ao extremo, causando cegueira pelo excesso de imagens, como alcançar o invisível? (Ensaio sobre a cegueira, Saramago)



A forma crítica de olhar a realidade pode ser vista tanto na foto trajetória quanto no exercício da fotografia do invisível. O que é invisível nesse trajeto e no cotidiano? Essa invisibilidade é estimulada pelo próprio sistema ou ficamos cegos diante do nosso cotidiano?

No livro “Ensaio sobre a Cegueira”, José Saramago narra uma epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas e abalando as estruturas sociais. Talvez a cegueira proporcionada pelo próprio sistema capitalista é induzida como forma ideológica de tornar visível somente o que pode ser controlado e tornado em mercadoria. “Por que foi que cegámos, não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, queres que te diga o que penso, diz, penso que não cegámos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, não veem” (SARAMAGO, 1995, p. 310)

O que não é visto se torna visível na medida que a fotografia já nasce para ser vista. A reprodução técnica possui mais autonomia que a manual porque o autêntico e a autoridade do original não é preservada. Por exemplo, a fotografia permite, com método de ampliação, oferecer possibilidades de apreensão do real que escapam à visão natural, além da possibilidade de levar a cópia do original até o espectador.

A fotografia é uma imagem mágica que trabalha o consciente do fotógrafo e também um espaço de inconsciência do real. “A natureza que fala à câmara não é a mesma que fala ao olhar; é outra, especialmente porque substitui a um espaço trabalhado conscientemente pelo homem, um espaço que ele percorre inconscientemente” (BENJAMIN, 1994, p.94). Real demonstrado pela técnica da câmera lenta e ampliação, uma exatidão de uma fração de segundo que é revelado na foto.

Apesar de toda a perícia do fotógrafo e de tudo o que existe de planejado em seu comportamento, o observador sente a necessidade irresistível de procurar nessa imagem a pequena centelha do acaso, do aqui e agora, com a qual a realidade chamuscou a imagem, de procurar o lugar imperceptível em que o futuro se aninha ainda hoje em minutos únicos (BENJAMIN, 1994, p.94).

A fotografia do invisível é revelada nas fotos através do olhar do indivíduo e também dos acasos seja da fotografia ou da deriva. Podemos ver através dessas três fotos[1], como o invisível é representado, porém somente com uma intertextualidade é possível percebê-lo.




 Exemplos de Fotos do invisível (clique aqui para ver)


 

 

 

 A primeira foto revela um invisível social e político onde um morador de rua dorme embaixo da frase “despertar da consciência”. Algo que é visto todo dia, porém ainda se encontra invisível. A segunda mostra uma sala de aula vazia, onde o conceito de invisibilidade é demonstrado na ausência. Alguns alunos retratam a ausência através da morte de alguém próximo ou de algo que não está ali.  A última representa uma aluna que possui o direito da gratuidade no transporte público, mas é invisível diante do motorista que não para, na grande maioria das vezes, para ela poder retorna para casa, ou seja, um direito que não é respeitado.

O invisível passa a ser apreendido de diversas maneiras e a fotografia passa ser a mediadora daqueles indivíduos e sua experiência com a realidade.

A fotografia como recriação da realidade, como simulacro que é e não é, ao mesmo tempo, o objeto real, a fotografia no que mostra e no que dissimula, como conhecimento dissociado da experiência que redefine a própria realidade (CIAVATTA, 2002, p.16).

Entender a fotografia como mediação histórica de um processo social complexo produzido historicamente e "síntese de múltiplas determinações" é concebê-la como parte de uma memória coletiva que possibilita a apreensão da realidade social em sua totalidade, visto que totalidade “é um conjunto de fatos articulados ou o contexto de um objeto com suas múltiplas relações ou, ainda, um todo estruturado que se desenvolve e se cria como produção social do homem” (CIAVATTA, 2001, p. 132).
      A mediação é a visão historicizada do objeto singular, ou seja, da fotografia, buscando contextualizá-la dentro de um espaço e tempo histórico cujas "determinações histórico-sociais que permitem a apreensão do objeto à luz das determinações mais gerais". (CIAVATTA, 2001, p.136). Entender o processo de representação da realidade em imagens fotográficas a partir do pressuposto de construção de sentido é apreender das práticas sociais mediadas pelas imagens na sociedade capitalista.



EXERCÍCIO




Consiste em pedir para seus alunos uma única foto que represente o invisível. O debate está na discussão de fotografar (ou seja tornar visível) algo invisível. No dia da entrega é realizado um debate para discutir e problematizar as leituras das imagens.

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