última atualização 09-01-2023

Dicionário da Educação Audiovisual - TEATRO E AUDIOVISUAL

Claudia Vieira
Professora de Artes Cênicas da Rede Municipal da Cidade do Rio de Janeiro
Atriz - Professora - Psicopedagoga
YouTube - Claudia Vieira Cinema na Escola


Tathiana Treuffar
Professora de Artes Cênicas do Município e Estado do Rio de Janeiro
Mestre em Ensino de Artes Cênicas - PPGEAC - Uni-Rio
Experiência na área de Artes, atuando principalmente 
no tema: teatro, cinema, educação, escola.
Youtube - Tathi Treuffar - Curta Metragem na Escola


Algumas definições

Teatro – a palavra teatro vem do grego Theatron que significa: “local onde se vê” ou “Lugar para olhar”.
https://www.todamateria.com.br/teatro-grego/

Teatro, do grego (Theatron), é uma forma de arte em que um ator ou conjunto de atores, interpreta uma história ou atividades para o público em um determinado lugar. Com o auxílio de dramaturgos ou de situações improvisadas, de diretores e técnicos, o espetáculo tem como objetivo apresentar uma situação e despertar sentimentos no público: também denomina-se teatro o edifício onde se desenvolve esta forma de arte, podendo também ser local de apresentações para a dança e recitais.

Segundo a enciclopédia britânica, a palavra teatro deriva do grego (Theaomai) – olhar com atenção, perceber, contemplar.

“Toda reflexão que tenha o drama como objeto precisa se apoiar numa tríade teatral: quem vê, o que se vê, e o imaginado”. Robson Camargo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro

Para Augusto Boal, o Teatro do Oprimido criado por ele é uma forma de teatro que visa a transformação social a partir do protagonismo de oprimidos; pretende transformar o espectador em sujeito atuante, transformador da ação que lhe é apresentada, de forma que ele mesmo, espectador, passe a protagonista e transformador da ação dramática.

“Aquele que transforma as palavras em versos transforma-se em poeta; aquele que transforma o barro em estátua transforma-se em escultor; ao transformar as relações sociais e humanas apresentadas em uma cena de teatro, transforma-se em cidadão”. (Augusto Boal)

Antonin Artaud (1896-1948) ator, diretor, poeta e teórico francês, o Teatro da Crueldade, nome dado à sua teoria proposta na década de 20, quer fazer uma crítica à cultura do espetáculo e à própria forma que a sociedade ocidental enxergava o mundo. Se opõe as características do teatro tradicional e a racionalidade do mundo ocidental. Entre as suas ideias, estava a concepção de um novo teatro e uma nova apreensão do universo, ligada ao nível pré-verbal da psique humana. Para Artaud, o teatro deveria abalar as certezas adotadas pela sociedade.


TEATRO E CINEMA – UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO ENTRE LINGUAGENS ARTÍSTICAS

Tathiana Treuffar

 

O teatro, assim como o cinema, prevê trabalho de equipe, funções, enredo, ação, o fora e dentro da cena (o fora e dentro de quadro). Roteiro e Peça teatral são escritos de forma semelhante, em cenas.

Funções como direção, iluminação, cenário, figurino, interpretação são comuns nas duas linguagens.

A ampliação do olhar presente na vivência dos recortes, enquadramentos e suas escolhas conscientes estão presentes tanto na experiência de filmar com a câmera, quanto na escolha dos espaços da representação e recepção do público no teatro.

A direção, nesse contexto, tem papel importante, ao proporcionar aos alunos serem os cineastas e diretores teatrais de suas obras artísticas, criando relações e outros pontos de vista em múltiplas possibilidades de recortes e recepções.

O enquadramento tem destaque nessa metodologia. Enquadrar não só o que se vai filmar e que se quer mostrar, mas também o recorte consciente do espaço de recepção daquele que vai assistir à encenação no teatro, para além da visão frontal do palco italiano.

A proposta de diálogo entre teatro e cinema se dá nessa percepção das semelhanças e diferenças entre o fazer teatral e o cinematográfico. E como uma linguagem pode estimular a outra, provocando outros olhares e possibilidades.

Outra relação entre teatro e cinema proposta por esse diálogo é a possibilidade da criação de roteiros através de improvisos teatrais. Jogos de imagens, ideias compartilhadas e discutidas em grupo transformam-se e traduzem-se em imagens corporais, fotografias, pequenas cenas. Nessa interseção temos simultaneamente teatro-imagem e imagens de cinema presentes nas fotografias desses instantâneos.

Para ilustrar mais algumas possibilidades criativas da mistura de teatro e cinema, cito aqui o processo de criação de um curta-metragem “Esse é meu Barato”, realizado em 2011, na Escola Municipal Monteiro Lobato, em Guaratiba. O processo de criação partiu de cenas teatrais criadas por alunos a partir de um tema gerador “Drogas”. Ao contrário de outros processos audiovisuais, não houve um roteiro inicialmente escrito, e sim, várias cenas teatrais sendo geradas e criadas por alunos em aulas. Elementos cinematográficos, como um tripé, foram usados teatralmente como objetos de cena. A escolha do objeto tripé, aconteceu despretensiosamente. Simplesmente o aluno que faria uma cena de um traficante, ao ver o tripé fechado, que estava na sala, pediu para usá-lo na cena para ser a sua arma. A cena encenada com esse tripé foi surpreendente, a imagem ficou forte. O aluno que encenava o personagem que recebia as balas atuou com seu corpo como se fosse alvejado por elas num gesto de tremor bastante expressivo. A imagem dessa cena foi bastante teatral e instantaneamente imaginei ela filmada, tendo o objeto tripé como arma. Pela potência da encenação dessa cena ela foi escolhida para ser roteirizada. E então passamos para a etapa de transformar a cena teatral em cena de cinema. Os alunos foram estimulados a escrever o Roteiro do filme pensando em imagens cinematográficas. Tentando adequar o que foi criado como teatro e transformando e transpondo para a linguagem do audiovisual. Roteiro pronto, o desafio de criar imagens para o texto escrito. E a reflexão de como filmar aquela cena, antes teatral, sem ser teatro filmado. Começa aqui a etapa da decupagem, os alunos já pensando em planos e enquadramentos e como iriam filmar. Vieram a escolha das locações no entorno da escola. A produção dos figurinos, a divisão das funções no filme e quem seria o responsável pela câmera. Foi decidido que manteríamos a cena da morte com o tripé de cinema. E esse take dentro do filme cria um estranhamento onde geralmente os alunos que assistem riem. O riso, provavelmente, vem da falta de verossimilhança da arma e da teatralidade dos tiros no corpo. No entanto, a interpretação teatral da cena, não afeta a linguagem cinematográfica do filme com planos escolhidos pelos alunos e ainda gera um estranhamento que considero interessante nessa ponte entre teatro-cinema.

Iniciar o processo nas semelhanças e diferenças entre as duas artes, propor jogos que misturam teatro e cinema e criar roteiros a partir da criação teatral me parecem propostas estimulantes, desafiadoras e que abrem várias possibilidades entre as linguagens artísticas na escola.

“ESSE É MEU BARATO”

https://www.youtube.com/watch?v=lVg2efigryQ

 

“ESSE É MEU BARATO”








EDUCAÇÃO AUDIOVISUAL NA ESCOLA

Claudia Vieira

O teatro sendo uma arte muito antiga, cerca de 3000 anos, passou por muitos processos de transformação e reinvenção, porém continua sendo a arte mais parecida com a vida; acontece no aqui e no agora, na presença física, na pulsação, na inter-relação elenco e público, sem a necessidade de ser intermediado por qualquer tecnologia. Basta uma palavra, um gesto do ator para que a imaginação do espectador mergulhe nos maiores mistérios e devaneios da vida.

Apesar de o teatro deixar claro que o que está a nossa frente é uma ilusão, de vermos a carpintaria, os artifícios ali expostos, entramos na magia do jogo cênico, e somos levados por ele, pelos atores, personagens, trama, plasticidade da cena, luz, som... ao mundo ali apresentado ou sugerido.

Já o cinema, uma linguagem muito mais nova, com cerca de 120 anos de existência, é uma arte de fragmentos de imagem e som, quase um jogo de quebra-cabeça, onde as peças são captadas em planos, enquadramentos, recortadas e depois montadas para dar sentido a narrativa.

“O teatro se eterniza na repetição, no cotidiano da temporada de um espetáculo, enquanto o cinema eterniza aquele instante único que jamais vai se repetir, aquele momento que vai ficar para sempre, impresso na película, vídeo ou arquivo digital”. Evaldo Mocarzel

 

Minha relação com o audiovisual na escola se deu, pela aproximação dos conteúdos programáticos do ensino do teatro na criação e produção cinematográfica; principalmente com relação à interpretação.

Ao participar de um projeto proposto pelo NUTED (Núcleo de Tecnologias Educacionais / FIOCRUZ) beneficiando a escola, com aprovação do edital FAPERJ E_36/2014 de Apoio à Melhoria do Ensino nas Escolas da Rede Pública no RJ; o audiovisual foi inserido como recurso metodológico na disciplina arte cênica, ministrado entre os anos 2014 a 2017.

A partir daí, o cinema passou a ser encarado como arte e como criação, e passou a ter um lugar na escola. Como espaço de apreciação e fruição com o cineclube e como processo de produção aprofundando as narrativas audiovisuais dos alunos, ao expressarem seus desejos e sentimentos a partir da imagem.

Sendo atualmente a educação escolar uma atividade sufocada pelo cumprimento de metas e habilidades básicas específicas, a disciplina arte cênica pode mobilizar a realização de um modelo de produção cinematográfica na escola.

 “Se o encontro com o cinema como arte não ocorrer na escola, há muitas crianças para as quais ele corre o risco de não ocorrer em lugar nenhum.” (BERGALA, 2008, p.33).


  








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