última atualização 09-01-2023

Dicionário da Educação Audiovisual - MÚSICA

Jeanine Bogaerts
jeanine.bogaerts@fiocruz.br
 Professora da disciplina de Música da EPSJV/FIOCRUZ
Organizadora do Festival Som e Cena da Escola Joaquim Venâncio


Etimologicamente a palavra música origina-se do grego mousikḗ, que está associado a moûsa, que faz alusão à arte das musas, “personagens femininas da mitologia grega que tinham a missão de agradar os Deuses do Olimpo. As musas tinham várias habilidades e entre elas se destacava o domínio da melodia, o ritmo e a harmonia para criar belos sons” (VESCHI, 2019).

Segundo o dicionário escrito por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010), “música é a arte de combinar sons de maneira agradável ao ouvido”.  Escrita há algumas décadas esta definição não consegue mais explicar o que é a música e pode ser questionada em vários aspectos: O que é arte? O que são sons agradáveis? Quem aponta se determinados sons combinam ou não entre si? Qual o espaço para a subjetividade e experiências de cada indivíduo e para músicas de outras culturas que podem não se encaixar, exatamente, no que nós, ocidentais eurocêntricos, consideramos agradável?

Vários estudiosos e pesquisadores, a partir, principalmente, da segunda metade do século XX, se esforçaram e ainda o fazem na tentativa de buscar outras definições que sejam mais abrangentes e que consigam englobar as diferentes músicas e suas transformações ao longo do tempo, e as diferentes músicas existentes no mundo. Nessa tentativa, Brito (2003, p. 26) escreve que música “é uma linguagem que organiza, intencionalmente, os signos sonoros e o silêncio, no continum espaço-tempo.”

Murray Schafer, compositor e educador musical canadense, diz que “música é a organização de sons com a intenção de ser ouvida” (SCHAFER, 1991, p. 35). Em diálogo com a definição de Schafer, o etnomusicólogo britânico John Blacking (1928 – 1990), citado por Alvares (2016), aponta que sons externos não podem vir a existir como música sem a presença de um ser humano que os reconheça como tal. Para Blacking (apud ALVARES, 2016), o ponto primordial para a compressão da música é a relação entre sujeito e objeto.

No cotidiano essa relação pode se dar nos mais variados espaços, entre eles, a escola. E no ambiente escolar uma das formas da música se fazer presente é através da Educação Musical, componente da disciplina de Artes, obrigatória na Educação Básica.

Para a educadora musical argentina, Violeta de Gainza o objetivo da Educação Musical é musicalizar, ou seja, tornar um indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical. A música pode, ao penetrar no homem, romper barreiras de todo o tipo, abrir canais de expressão e comunicação, e induzir a modificações significativas na mente e no corpo. (GAINZA, 1988)

As aulas de música devem buscar através do fazer musical, trabalhar os conteúdos e habilidades musicais, percebendo os diferentes gêneros musicais, entendendo-a como forma de expressão de sentimentos e ideias, valorizando-a para além de sua função estética. Através de arranjos de músicas de compositores já conhecidos e músicas elaboradas pelos alunos, improvisação e execução de instrumentos musicais tradicionais e alternativos, as aulas de música devem garantir espaço para a expressão musical dos alunos, seja de forma individual ou em construções coletivas.

Através de diferentes maneiras de experimentar a música, o indivíduo adquire ferramentas que possibilitam decodificar esta forma de linguagem. Gainza (1988) chama atenção para a importância de todas as pessoas terem oportunidade de entrarem em contato com a música, não apenas como apreciadoras, mas como executantes. Na opinião desta autora, toda conduta expressiva - e a música é uma delas - tem a qualidade de refletir aspectos da personalidade. Quando nos expressamos, mostramos nossas qualidades e nossas dificuldades, mostramos o que pensamos e o que sentimos (GAINZA, 1988). Quando em contato com instrumentos musicais, as pessoas tenderão a mostrar sua “sensorialidade, sua afetividade ou suas capacidades motoras e mentais” (GAINZA, 1988, p. 26).

Sem deixar de lado os objetivos musicais que as aulas de Música devem almejar, acreditamos que esse espaço pode contribuir de forma significativa para uma concepção crítica de educação, estimulando a formação de cidadãos mais atentos às questões que o circundam e com maior capacidade de intervir social e politicamente.

O “poder” da música vem sendo pesquisado há vários anos por diferentes áreas. A neurociência, por exemplo, busca explicar, não somente o que acontece com o cérebro de quem toca um instrumento musical, mas de que forma a música atua no cérebro quando a ouvimos. Já é sabido que o som e a música são capazes de causar alterações em nossa fisiologia, em nossa pulsação, no ritmo de nosso coração e na liberação de hormônios em nosso corpo. Podem alterar ainda nosso humor e mudar a nossa atitude mental.

Ao se depararem com o efeito sensibilizador da música, outras áreas passam a utilizá-la. Podemos encontrar, entre outras utilizações, a música usada de forma terapêutica - Musicoterapia -, na indústria da propaganda, com seus jingles composto com o intuito de ressaltar e vender determinado produto, e presente em diferentes narrativas, como o cinema e o teatro.

Neste último caso, a música e os sons se tornam essenciais para a compreensão ou o enriquecimento da história que está sendo contada. “Pode-se afirmar, portanto, que a trilha sonora consiste na instrumentalização da música e das sonoridades como fatores fundamentais na criação de uma história, seja qual for o veículo que irá transmiti-la – cinema, teatro, televisão, entre outros” (SANTANA, s.d.).

A música é tão importante nessas produções que pode ser considerada um dos elementos do Audiovisual.  Neves (2015), cita Bethônico (2001, p 51) para ressaltar que “A união do som e da imagem, enquanto mediadora de significados, representa para o ser humano um espaço imenso para a descoberta, a exploração e a conquista de si mesmo e de seu ambiente.”

É interessante apontarmos nesse momento, a necessidade para que esse diálogo também aconteça na escola. Geralmente as produções audiovisuais desenvolvidas em ambiente escola, focam mais no visual, deixando o som e a música em segundo plano. É importante mostrar ao aluno as diferentes possibilidades narrativas e de que forma som e imagem se completam com a finalidade de conduzir o expectador pela história que está sendo contada.

Possibilitar aos alunos que entrem em contato com o audiovisual, destacando a relevância do som, é permitir que estes ampliem as possibilidades de expressão e de criação, valorizando não somente o aspecto visual, mas a acuidade e a expressão auditiva. Além disso, busca reforçar a ideia de complementaridade entre som e imagem, e toda potência narrativa e expressiva de ambos quando essa integração acontece de forma coesa e equilibrada.

 

Referências

ÁLVARES, S. Considerações sobre a educação musical na diversidade sob a perspectiva da musicalidade abrangente. In: ALVARES, T. S.; AMARANTE, P. (org.). EDUCAÇÃO MUSICAL NA DIVERSIDADE: construindo um olhar de reconhecimento humano e equidade social em educação. Curitiba, Brasil: EDITORA CRV, 2016. p. 73-110.

BRITO, T. A. de. Koellreutter educador: o humano como objetivo da educação musical. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2001.

 

GAINZA, V H. de. La Improvisación Musical. Buenos Aires: Ricordi, 1988.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010

NEVES, O. O SOM NA IMAGEM Audiovisualidade e ensino. Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, 2015.

SANTANA, A. L. TRILHA SONORA. s.d. Em https://www.infoescola.com/cinema/trilha-sonora/ Acesso em 22 de maio de 2021

SCHAFER. M.O ouvido pensante. São Paulo, Unesp, 1991.

VESCHI. B. ETMOLOGIA DE MÚSICA, 2019. Em https://etimologia.com.br/musica/. Acesso em 22 de maio de 2021

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