Etimologicamente
a palavra música origina-se do grego mousikḗ, que está associado a
moûsa, que faz alusão à arte das musas, “personagens femininas da mitologia
grega que tinham a missão de agradar os Deuses do Olimpo. As musas tinham várias
habilidades e entre elas se destacava o domínio da melodia, o ritmo e a harmonia para
criar belos sons” (VESCHI, 2019).
Segundo
o dicionário escrito por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010), “música é
a arte de combinar sons de maneira agradável ao ouvido”. Escrita há algumas décadas esta definição não
consegue mais explicar o que é a música e pode ser questionada em vários
aspectos: O que é arte? O que são sons agradáveis? Quem aponta se determinados
sons combinam ou não entre si? Qual o espaço para a subjetividade e
experiências de cada indivíduo e para músicas de outras culturas que podem não
se encaixar, exatamente, no que nós, ocidentais eurocêntricos, consideramos
agradável?
Vários estudiosos e pesquisadores, a
partir, principalmente, da segunda metade do século XX, se esforçaram e ainda o
fazem na tentativa de buscar outras definições que sejam mais abrangentes e que
consigam englobar as diferentes músicas e suas transformações ao longo do tempo,
e as diferentes músicas existentes no mundo. Nessa tentativa, Brito (2003, p.
26) escreve que música “é uma linguagem que organiza, intencionalmente, os
signos sonoros e o silêncio, no continum espaço-tempo.”
Murray Schafer, compositor e educador musical
canadense, diz que “música é a organização de sons com a intenção de ser
ouvida” (SCHAFER, 1991, p. 35). Em diálogo com a definição de Schafer, o
etnomusicólogo britânico John Blacking (1928 – 1990), citado por Alvares (2016),
aponta que sons externos não podem vir a existir como música sem a presença de
um ser humano que os reconheça como tal. Para Blacking (apud ALVARES, 2016), o
ponto primordial para a compressão da música é a relação entre sujeito e
objeto.
No cotidiano essa relação pode se dar nos
mais variados espaços, entre eles, a escola. E no ambiente escolar uma das
formas da música se fazer presente é
através da Educação Musical, componente da disciplina de Artes, obrigatória na
Educação Básica.
Para a educadora musical argentina, Violeta de Gainza o objetivo da Educação Musical é
musicalizar, ou seja, tornar um indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno
sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical. A música
pode, ao penetrar no homem, romper barreiras de todo o tipo, abrir canais de
expressão e comunicação, e induzir a modificações significativas na mente e no
corpo. (GAINZA, 1988)
As aulas de música devem buscar através do fazer
musical, trabalhar os conteúdos e habilidades musicais, percebendo os
diferentes gêneros musicais, entendendo-a como forma de expressão de
sentimentos e ideias, valorizando-a para além de sua função estética. Através
de arranjos de músicas de compositores já conhecidos e músicas elaboradas pelos
alunos, improvisação e execução de instrumentos musicais tradicionais e
alternativos, as aulas de música devem garantir espaço para a expressão musical
dos alunos, seja de forma individual ou em construções coletivas.
Através
de diferentes maneiras de experimentar a música, o indivíduo adquire
ferramentas que possibilitam decodificar esta forma de linguagem. Gainza (1988) chama atenção para a
importância de todas as pessoas terem oportunidade de entrarem em contato com a
música, não apenas como apreciadoras, mas como executantes. Na opinião desta
autora, toda conduta expressiva - e a música é uma delas - tem a qualidade de
refletir aspectos da personalidade. Quando nos expressamos, mostramos nossas
qualidades e nossas dificuldades, mostramos o que pensamos e o que sentimos
(GAINZA, 1988). Quando em contato com instrumentos musicais, as pessoas
tenderão a mostrar sua “sensorialidade, sua afetividade ou suas capacidades
motoras e mentais” (GAINZA, 1988, p. 26).
Sem deixar de lado os objetivos musicais que as
aulas de Música devem almejar, acreditamos que esse espaço pode contribuir de
forma significativa para uma concepção crítica de educação, estimulando a
formação de cidadãos mais atentos às questões que o circundam e com maior
capacidade de intervir social e politicamente.
O “poder” da música vem sendo pesquisado há vários anos
por diferentes áreas. A neurociência, por exemplo, busca explicar, não somente
o que acontece com o cérebro de quem toca um instrumento musical, mas de que
forma a música atua no cérebro quando a ouvimos. Já é sabido que o som e a
música são capazes de causar alterações em nossa fisiologia, em nossa pulsação,
no ritmo de nosso coração e na liberação de hormônios em nosso corpo. Podem
alterar ainda nosso humor e mudar a nossa atitude mental.
Ao se depararem com o efeito sensibilizador da música,
outras áreas passam a utilizá-la. Podemos encontrar, entre outras utilizações,
a música usada de forma terapêutica - Musicoterapia -, na indústria da
propaganda, com seus jingles composto com o intuito de ressaltar e
vender determinado produto, e presente em diferentes narrativas, como o cinema
e o teatro.
Neste último caso, a música e os sons se tornam
essenciais para a compreensão ou o enriquecimento da história que está sendo
contada. “Pode-se afirmar, portanto, que a trilha
sonora consiste na instrumentalização da música e das sonoridades como fatores
fundamentais na criação de uma história, seja qual for o veículo que irá
transmiti-la – cinema, teatro, televisão, entre outros” (SANTANA, s.d.).
A música é tão importante nessas
produções que pode ser considerada um dos elementos do Audiovisual. Neves (2015), cita Bethônico (2001, p 51)
para ressaltar que “A união
do som e da imagem, enquanto mediadora de significados, representa para o ser
humano um espaço imenso para a descoberta, a exploração e a conquista de si
mesmo e de seu ambiente.”
É interessante apontarmos nesse momento,
a necessidade para que esse diálogo também aconteça na escola. Geralmente as
produções audiovisuais desenvolvidas em ambiente escola, focam mais no visual,
deixando o som e a música em segundo plano. É importante mostrar ao aluno as
diferentes possibilidades narrativas e de que forma som e imagem se completam
com a finalidade de conduzir o expectador pela história que está sendo contada.
Possibilitar aos alunos que entrem em contato com o
audiovisual, destacando a relevância do som, é permitir que estes ampliem as
possibilidades de expressão e de criação, valorizando não somente o aspecto
visual, mas a acuidade e a expressão auditiva. Além disso, busca reforçar a
ideia de complementaridade entre som e imagem, e toda potência narrativa e
expressiva de ambos quando essa integração acontece de forma coesa e
equilibrada.
Referências
ÁLVARES,
S. Considerações sobre a educação musical na diversidade sob a perspectiva da
musicalidade abrangente. In: ALVARES, T. S.; AMARANTE, P. (org.). EDUCAÇÃO
MUSICAL NA DIVERSIDADE: construindo um olhar de reconhecimento humano e
equidade social em educação. Curitiba, Brasil: EDITORA CRV, 2016. p.
73-110.
BRITO, T. A. de. Koellreutter
educador: o humano como objetivo da educação musical. São Paulo: Editora
Fundação Peirópolis, 2001.
GAINZA, V H. de. La
Improvisación Musical. Buenos Aires: Ricordi, 1988.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio:
o dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010
NEVES, O.
O SOM NA IMAGEM Audiovisualidade e ensino. Monografia apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade
Federal de Minas Gerais, 2015.
SANTANA, A. L. TRILHA SONORA. s.d. Em https://www.infoescola.com/cinema/trilha-sonora/ Acesso em 22 de maio de 2021
SCHAFER. M.O ouvido pensante. São Paulo, Unesp, 1991.
VESCHI. B. ETMOLOGIA DE MÚSICA,
2019. Em https://etimologia.com.br/musica/. Acesso em 22 de maio de 2021
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