Luciana Bessa Diniz de Menezes
Cineclube: a experiência do cinema na escola
Introdução
Este capítulo tem como objetivo compartilhar a experiência
vivida entre 2012 a 2017, quando estive à frente do Projeto Cineclube nas
Escolas, promovido pela então Gerência de Mídia-Educação[2],
da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME/RJ). O convite para
participar desse livro trouxe o desafio de transformar em texto a história de
muitas personagens que fizeram parte dessa iniciativa.
Tudo o que me
diz respeito, a começar por meu nome, e que penetra em minha consciência,
vêm-me do mundo exterior, da boca dos outros (da mãe, etc.), e me é dado com a
entonação, com o tom emotivo dos valores deles. Tomo consciência de mim,
originalmente, através dos outros: deles recebo a palavra, a forma e o tom que
servirão para a formatação original da representação que terei de mim mesmo
(BAKHTIN, 2003, p. 378).
Segundo Bakhtin (2003), polifonia é a presença de outros textos
dentro de um texto, causada pela inserção do autor num contexto que já inclui
previamente textos anteriores que lhe inspiram ou influenciam. Assim, todas as
vozes sociais que antecederam a ele ressoam em sua enunciação. Assumindo esse
pressuposto, ressalto que a escrita que se desenvolve a seguir é fruto da
relação com inúmeras pessoas (crianças e adultos) e, em particular, com a
equipe da Gerência de Mídia-Educação, principalmente com a professora Adelaide
Leo, uma das principais idealizadoras desse Projeto. Nas próximas linhas busco
apresentar a trajetória dessa proposta e, quem sabe, incentivar outras
experiências dessa relação entre Cinema e Educação. Iniciamos nossa conversa
com um breve contexto sobre a criação de Projeto.
A exibição de filmes nas escolas não começou com o Projeto
Cineclube nas Escolas. Ela já acontecia muito antes de sua criação. Os
professores além da exibição, também produziam filmes e levavam seus alunos ao
cinema. Só para ilustrar essa afirmação, cito o caso na década de 60 da
professora Maria José Alvez que exibia e realizava com sua turma, em uma escola
pública municipal do Rio de Janeiro, filmes. Maria José foi professora do
cineasta Silvio Tendler e essa história foi contada por ele durante um evento
promovido pela SME-RJ em 2010. Tendler é padrinho do projeto Cineclube nas
Escolas e fez questão de afirmar que a professora foi a grande inspiração para
ele seguir a carreira de cineasta.
Essas ações, no entanto, aconteciam de forma isolada e pontual,
ou seja, não faziam parte de uma proposta planejada e integrada pela SME/RJ. Em
2008, a Gerência de Mídia-Educação criou o Projeto Cineclube nas Escolas que promoveu,
de forma organizada e articulada, a aproximação do Cinema e a Educação. Ao
invés de prescrever uma relação unívoca e previamente estabelecida de como
realizar a proposta, buscou-se desde o início de sua implementação incorporar
as experiências acumuladas anteriormente na rede, seguindo as pegadas dos
profissionais que promoviam sessões de cinema na escola, como as deixadas pela
professora Maria José, e incorporando os desvios e encontros na dinâmica do
fazer pedagógico em sala de aula.
Logo que foi criado, foram instituídos a título de
projeto-piloto 50 pontos de cineclube em unidades escolares, equipados com
materiais para exibição – projetor, telão e caixas de som – e produção
(filmadora). A 2ª fase do Projeto, iniciada em 2009, após a mudança de Governo,
ampliou de 50 para 200 os pontos de cineclube na rede pública municipal. Em
2017, o número de unidades ultrapassava 250. Vale ressaltar que a inserção de
novas unidades se deu de forma gradativa, considerando, entre outros aspectos,
o interesse de participação da escola, os projetos estratégicos de cada gestão
e a disponibilidade orçamentária, definidos a cada ano letivo.
O Projeto atravessou quatro administrações públicas municipais.
Ele foi implementado no final gestão do prefeito Cesar Maia (2008) e continuou
nas duas gestões seguintes de Eduardo Paes (2009-2012/2013-2016) e na de
Marcelo Crivella (2017-2020). São poucas as iniciativas que perpassam de uma
administração para outra, sem sofrer alterações em sua ideologia ou até mesmo
em seu nome. No caso específico do Projeto Cineclube nas Escolas, posso afirmar
que ele manteve sua premissa básica nesses últimos 10 anos e isso se deve em
grande parte à continuidade (até 2017) da mesma equipe gestora à frente da
Gerência de Mídia-Educação e de praticamente todo o grupo de professores que
esteve presente na sua criação em 2008. Isso contribuiu para sua consolidação e
expansão.
Cabe aqui esclarecer que a questão da continuidade e
descontinuidade administrativa na gestão pública não é nova e nem exclusiva do
município do Rio de Janeiro. Ela decorre da troca de políticos e gestores em
níveis de direção durante a mudança de Governo. A descontinuidade se manifesta
na interrupção de projetos, obras e ações, e na mudança de prioridades e metas.
Tais rupturas resultam, muitas vezes, na perda de conhecimento acumulado (ou
memória institucional), no retrocesso de algumas ações, além, de desperdício de
recursos públicos.
Graças a uma base teórica sólida e o engajamento dos professores
da rede à proposta, o Projeto permaneceu nas diferentes administrações
mantendo-se fiel aos seus princípios iniciais de oferecer ao cinema um lugar
diferenciado na escola: o de experiência na relação com a arte. Desde sua
criação, o Projeto foi se modificando, ganhando feições próprias e vem se
reinventando por força dos encontros com professores, alunos e parcerias que
agregam importantes contribuições, além das mudanças de gestões. São essas
personagens, de origens e formações variadas, que construíram, dia após dia,
junto com a equipe da Gerência de Mídia-Educação, a fisionomia atual dessa proposta.
A inspiração francesa
A proposta do Projeto Cineclube nas Escolas teve forte inspiração
no Plan de Cinq Ans pour les Arts et la
Culture[3],
criado na década de 2000 por Jack Lang, Ministro da Educação da França. Segundo
ele, o objetivo era desenvolver as artes e a cultura nas escolas da rede
pública de seu país juntamente com o Ministério da Cultura. No entanto é
possível perceber nessa ação de políticas públicas uma intencionalidade de
fortalecer a constituição do gosto e do cinema como patrimônio da cultura
francesa.
Lang convidou o cineasta Alain Bergala para integrar a sua
equipe como conselheiro do plano Les arts
à l’école[4] e elaborar
ações e materiais para reintroduzir a cultura cinematográfica nas regiões em
que ela havia desaparecido e desenvolvê-la onde só se tinha acesso a filmes
comerciais. Dos materiais produzidos por Bergala, destaca-se a coleção de DVD L'Éden Cinéma, com produções renomadas
distribuídas para todas as escolas. Além de ser usada para trabalhar conteúdos
curriculares e organizar estudos sobre o gênero propriamente dito, a coletânea
era explorada para promover debates sobre as histórias. O objetivo desse DVD
era facilitar o acesso ao que o cineasta chamou de baú de tesouros, disponíveis tanto para professores quanto para
alunos.
Da proposta francesa foi extraída, basicamente, a ideia de levar
o cinema para escola como arte e não apenas recurso pedagógico para ensinar um
conteúdo curricular e a constituição de uma filmoteca – coletânea inicial de
filmes em DVD capaz de ser uma alternativa ao cinema de consumo. Apesar do
acesso aos filmes hoje em dia ser mais fácil, verifica-se, no entanto, que isso
não garante a diversidade cultural. Normalmente, as produções que circulam no
circuito das salas comerciais de cinema e nas telas de televisão e celulares
privilegiam um determinado tipo de narrativa fílmica. Em relação a essa questão
Duarte afirma que:
Como a maioria
dos filmes a que eles (alunos) têm acesso são feitos dentro de um certo padrão
estético e narrativo, a tendência é que se estabeleça, entre eles, um ciclo de
‘mais do mesmo’: vejo apenas o que gosto, gosto apenas do que vejo. O cineclube
rompe com esse ciclo quando oferece aos aprendizes de cinema a possibilidade de
ter acesso a diferentes tipos de filmes e, em especial, a obras que estão fora
do seu padrão de gosto. (DUARTE, 2012, p. 3).
Partindo desse pressuposto, foi organizado um acervo de filmes
nacionais de diferentes categorias e gêneros para as escolas que integravam o
Projeto. Até 2017, o acervo de filmes reunia mais de 150 títulos[5],
entre curta, médio e longa-metragens.
As unidades que integravam o Projeto eram orientadas a emprestar
os equipamentos e acervo para outras escolas que desejassem realizar suas
sessões cineclubistas. Com isso, era possível garantir a muitos outros alunos o
acesso ao acervo, uma vez que o Projeto não estava presente em todas as
unidades da rede pública municipal.
O que se pretendia com esse material era favorecer o contato de
alunos e professores com outras estéticas, para além daquelas que dominam o
mercado cinematográfico. Bergala (2008) já chamava a atenção para o fato de que
o acervo de filmes selecionados pode modestamente ajudar na escolha do que
assistir, por apresentar uma primeira triagem dentre uma infinidade de opções.
Segundo ele, a iniciação artística pode começar às vezes por uma simples
atitude de sensibilidade pedagógica: “colocar o bom objeto no momento certo ao
lado da pessoa certa.” (BERGALA, 2008, p. 111).
Por que um cineclube na escola?
A proposta de cineclube propicia tanto para professores quanto
para alunos o prazer e a reflexão acerca do filme por meio da experiência do
cinema. Ela traz a exibição como ato de cultura e um poderoso instrumento de
intercâmbio. O debate após a sessão visa garantir ao espectador um momento para
compartilhar sensações e experiências. É importante esclarecer que não era
intenção do Projeto ensinar a ver uma
obra. Afinal, não existe uma forma certa ou errada de assistir a um filme, mas
formas diferentes. O importante é valorizar as singularidades das percepções
individuais.
Como afirma Bergala (2008), a arte não se ensina, mas se
encontra, se experimenta e se transmite por outras vias além do discurso. Dessa
forma, a escola pode possibilitar o encontro com o cinema, ajudar os alunos a
entendê-lo melhor enquanto arte, mas não pode obrigar ninguém a ser tocado por
um determinado filme. Este processo é absolutamente individual, ainda que
ocorra numa situação de experiência coletiva. Então, é possível um aluno não
gostar do filme e expressar seu descontentamento no momento da conversa após a
exibição. Isso deve ser respeitado.
Desde sua criação em 2008, o Projeto conta com a consultoria do
Cineduc[6],
instituição com 50 anos de trabalho na área de Cinema e Educação, além de
parcerias com universidades, como a PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica),
para realizar sua proposta. Ele está organizado em três grandes eixos: acervo, ação
cineclubista e formação.
O eixo acervo, além de oferecer às unidades uma coleção de
filmes em DVD, também dispõe de livros que tratam da relação Cinema e Educação.
Esse acervo reunia, em 2017, mais de 60 títulos, que circulavam entre
professores e alunos. Novos títulos de filmes e livros, assim como
equipamentos, eram adquiridos pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de
Janeiro e encaminhados às unidades, conforme a disponibilidade orçamentária
anual.
A infraestrutura para a realização da sessão é importante e
também sempre foi um dos principais desafios para um Projeto com tantas unidades
e com um orçamento tão enxuto. Embora o número de escolas que participavam do
projeto fosse aumentando de um ano para o outro, a aquisição de equipamentos,
filmes e livros não acompanhou o ritmo dessa ampliação. Sozinha, no entanto, a
infraestrutura não garante a exibição ou produção de filme. Sem querer
minimizar a importância de equipar as unidades, pois, sim, ela é importante
para a realização adequada da proposta, mas essa foi a constatação a que
cheguei após cinco anos à frente do Projeto. É preciso também o interesse e a
colaboração de todos atores da escola (alunos, professores, funcionários e
direção) para que este acervo e equipamentos sejam utilizados no ambiente
escolar.
O segundo eixo do Projeto é a ação cineclubista na escola. A
premissa que orienta esse eixo é a de que os alunos sejam responsáveis por todo
o processo de exibição: da escolha do filme até a mediação do debate, passando
pela elaboração da sinopse e ficha técnica e por toda a comunicação das sessões
junto à comunidade escolar: cartazes, panfletos, folders, convites, propagandas
nos jornais e rádios da escola. A
questão da ambiência da sala escura também era muito enfatizada, afinal, o cinema
é um espaço de experiência, sensações e de encontros. Algumas escolas,
inclusive, produziram com seus alunos suas próprias vinhetas para exibir antes
da exibição de filme nas sessões cineclubistas, orientando os espectadores a
desligarem o celular e não falar durante a sessão, como nas salas de cinemas
comerciais. É o caso da E.M. Mário Piragibe, em Anchieta.
As unidades foram orientadas a realizarem regularmente pelo
menos uma sessão cineclubista por mês. Outra diretriz apresentada pela SME-RJ
durante os encontros com os professores era a importância de se manter um
diálogo entre a ação cineclubista e a proposta pedagógica desenvolvida na
escola, entendendo que esse movimento pode potencializar um conjunto de ações
de desdobramento, permitindo, portanto, a articulação com diferentes campos do
saber. Ao provocar o exercício regular de ver filmes na sala de aula,
aproximando a Educação da experiência do Cinema, pretende-se contribuir para a
formação dos alunos, estimulando eles desde cedo a buscarem, de forma mais
consciente, novas experiências com as obras cinematográficas e a leitura de
narrativas audiovisuais.
A conversa após a exibição do filme na escola visava, entre
outros objetivos, incentivar o questionamento, o raciocínio e a interpretação,
para levar cada aluno a contextualizar o que foi visto e a expressar sua visão
de mundo. Para que um cineclube seja um cineclube, é fundamental que haja um
momento de compartilhar impressões depois da exibição. Esse momento pode ser
realizado entre alunos e professores ou pode contar com a presença de um
convidado especial. O debate após a exibição qualifica a experiência cultural.
O segundo eixo prevê, também, a ida de alunos e professores às
salas de cinema, uma vez que a ação cineclubista realizada na escola não
exclui, pelo contrário, visa estimular a aproximação de alunos e professores
aos bens culturais da cidade. Muitas crianças foram ao cinema pela primeira vez
por meio dessa iniciativa. Os motivos delas chegarem aos 10 ou 12 anos sem
nunca terem frequentado uma sala de cinema são muitos. Vai desde o valor do
ingresso até a questão de que em alguns bairros da cidade ainda não possuem
salas de cinema.
A ida ao cinema é desenvolvida em parceria com os principais
festivais de cinema da cidade: Festival do Rio (Mostra Geração/Vídeo Fórum),
Anima Mundi, Festival Internacional Pequeno Cineasta, Festival Internacional de
Cinema Infantil (FICI), Visões Periféricas, Festival Ibero Americano de Cinema
e Vídeo (Cinesul), Mostra do Filme Etnográfico, Filmambiente, Tela Brasil,
Festival Internacional de Curtas (Curta Cinema), Varilux de Cinema Francês,
Mostra Cinema e Direitos Humanos, entre outros. A pluralidade das parcerias
garante a diversidade nas produções apresentadas aos professores e alunos,
favorecendo a ampliação do repertório. Outra ação organizada nesse eixo é a
circulação de mostras itinerantes nas escolas. Essa ação ampliou o acesso aos
filmes de festivais. Também foram realizadas parcerias com plataformas digitais
para exibição de filmes de seu acervo em sessões na escola.
Segundo Bergala (2008), ver e fazer são frente e verso de uma
mesma práxis. Para esse autor, não basta a exibição de filmes e a provocação de
debates sobre o conteúdo para a formação de subjetividades críticas. Faz-se
necessário conhecer o processo de produção, suas técnicas, narrativas e
linguagem, bem como discutir a intenção por trás de determinadas representações
sociais. A realização de filmes nas escolas visa justamente possibilitar aos
alunos a produção de suas próprias narrativas audiovisuais mediadas por professores,
entendendo que muitas dessas crianças e jovens já são produtores fora da
escola.
Muitos desses filmes produzidos em sala de aula são selecionados
por festivais nacionais e internacionais. Em 2012, dos 43 filmes selecionados
pelo Vídeo Fórum[7],
da Mostra Geração do Festival do Rio, 22 foram produzidos por escolas
municipais do Rio de Janeiro. Alguns deles chegaram a ser exibidos fora do
Brasil. Destaco duas animações selecionadas por festivais na Argentina. São
elas: “Maria-vai-com-as-outras”, da E.M. Burle Max, de Jacarepaguá, que
participou do 9º Festival Iberoamericano de Cortos “Imágenes Jóvenes en la
Diversidad Cultural”, e “Brincadeira de Criança”, do Ciep Presidente Agostinho
Neto, do Humaitá, exibido no 11º Festival Internacional de Cine “Nueva Mirada”
para la Infancia y la Juventud”. Normalmente, esses alunos-autores eram levados
para assistirem suas produções na tela grande do cinema durante os festivais.
O terceiro eixo do Projeto é a formação. O professor não precisa
ser crítico profissional de cinema para trabalhar com filmes, mas o
conhecimento de alguns elementos de linguagem cinematográfica vai acrescentar
qualidade ao trabalho. Para Napolitano (2003), boa parte dos valores e das
mensagens transmitidas pelos filmes a que assistimos se efetiva nem tanto pela
história contada em si, mas, sim, pela forma de contá-la. Daí o Projeto ter
investido em formações de professores ao longo dos anos. Muitas delas
realizadas em parceria com o Cineduc, outras com cineastas como Silvio Tendler,
Tizuka Yamasaki, Jorge Furtado, Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi, em palestras e
sessões cineclubistas para professores.
Como qualquer obra de arte, o cinema comunica algo e é capaz de
desestabilizar o espectador. Isso acontece mais pela forma como os temas são
desenvolvidos do que pelos temas propriamente ditos. Por isso, os vários
aspectos da linguagem são relevantes para a sua compreensão: ângulo,
enquadramento, interpretação, montagem de planos, sequência, fotografia
(texturas e cores da imagem), etc.
Considerações finais
Nesses cinco anos à frente do Projeto, testemunhei o entusiasmo
de muitas crianças e adultos na experiência com o cinema mediada pela escola.
Sejam nas sessões realizadas nas salas de aulas, nas idas ao cinema ou nas
criações de suas próprias histórias com imagens em movimento e sons. Antes
mesmo da promulgação da Lei 13.006, de 2014, que propõe a obrigatoriedade da
exibição de pelos menos duas horas mensais de filmes nacionais no Ensino
Fundamental, o Projeto já propunha aos professores a realização regular de
exibição de filmes nas salas de aula, de forma intencional e planejada. Poucos
projetos criados na administração pública, em especial na interface Cinema e
Educação, (re)existem a mais de 10 anos.
É claro que há muito ainda que se avançar nessa proposta. O
Projeto não está posto e acabado, mas em constante modificação para adequar-se
à realidade da escola atual e às necessidades da comunidade escolar.
Pela frente há muitos desafios. O principal deles é consagrar-se
como política pública carioca no campo da Mídia-Educação e ter seu espaço de
realização garantido em qualquer mudança de Governo. Além disso, é importante ampliar
seu raio de ação a todas as escolas da rede pública municipal do Rio de
Janeiro, mantendo sua premissa básica de levar o cinema para a sala de aula
como arte, a partir de uma visão coletiva e democrática. Isso, no entanto,
implica em recursos. Em uma rede do tamanho da do Rio de Janeiro, onde os
problemas e necessidades são sempre muito grandes, essa questão é sempre desafiadora.
Apenas exibir filme na escola não contribui diretamente para a
formação do aluno enquanto sujeito pensante, crítico e formador de opinião,
mas, sim, um conjunto de intenções planejadas para alcançar esse objetivo. O
Projeto Cineclube nas Escolas ofereceu ao Cinema um lugar novo na escola. Um
espaço que se constrói na relação afetiva de professores e alunos com a
experiência cinematográfica.
Compartilhar a experiência dessa iniciativa na área de Cinema e
Educação, criada e implementada pelo próprio poder público municipal, me
permite olhar para trás com esperança pelo que vem pela frente. Hoje é possível
encontrar muito mais projetos de cinema na escola que vão além do uso
instrumental do filme, que investem na potência da obra de arte como forma de
expressão artística. A maioria deles propostos pelas universidades, festivais
de cinema, organizações não governamentais. Poucos ainda pelos próprios
gestores públicos. A expectativa é provocar outras iniciativas institucionais
que reconheçam o outro lugar que o cinema ocupa na sala de aula. O lugar de
obra de arte, linguagem e cultura.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da
criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BERGALA, A. A
hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da
escola. Trad. Mônica Costa Netto, Silvia Pimenta, Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/
UFRJ, 2008.
BOURDIEU, P.. O poder
simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
DUARTE, R. Cinema e
educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
DUARTE, R. O cinema de
cada um. Texto apresentado na abertura da aula inaugural do Projeto Cineclube
nas Escolas, 2012. Disponível em:
<http://cineclubesmerj.blogspot.com.br/>. Acesso em: 6 de mar. 2015.
NAPOLITANO,
M. Como usar o cinema na sala de aula.
São Paulo: Contexto, 2003.
[1] Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ. MestrA pelo Programa de
Pós-Graduação em Educação da UERJ. Especialista em Mídia-Educação pela UFRJ.
Tutora da disciplina Imagem, Cultura e Tecnologia, pela Fundação Centro de
Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro
(CEDERJ/UERJ). Professora concursada da Rede Pública Municipal de Educação do
Rio de Janeiro desde 1990. E-mail: bessalu@yahoo.com.br
[2]O Projeto
Cineclube nas Escolas foi criado em 2018, na então Divisão de Mídia-Educação
que em 2012 passou a ser chamada de Gerência de Mídia-Educação. Em 2018, após
nova mudança na estrutura da SME/RJ, ela recebeu a denominação de Gerência de
Leitura.
[3]Tradução: Plano de
Cinco Anos para as Artes e a Cultura.
[4]Tradução: As artes
na escola.
[5] Relação dos
filmes do acervo em anexo (2017).
[6] Cineduc: Cinema
Educação é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 1970 e declarada de
utilidade pública em 1984.
[7]Trata-se do segmento infanto-juvenil
do Festival do Rio, que desde 2000 leva anualmente à tela grande do cinema
a expressão audiovisual das crianças e jovens.
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