última atualização 09-01-2023

Dicionário da Educação Audiovisual - CINECLUBE NA ESCOLA

Luciana Bessa Diniz de Menezes

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ. MestrA pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ. Especialista em Mídia-Educação pela UFRJ. Tutora da disciplina Imagem, Cultura e Tecnologia, pela Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ/UERJ). Professora concursada da Rede Pública Municipal de Educação do Rio de Janeiro desde 1990. E-mail: bessalu@yahoo.com.br


Cineclube: a experiência do cinema na escola


Introdução

Este capítulo tem como objetivo compartilhar a experiência vivida entre 2012 a 2017, quando estive à frente do Projeto Cineclube nas Escolas, promovido pela então Gerência de Mídia-Educação[2], da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME/RJ). O convite para participar desse livro trouxe o desafio de transformar em texto a história de muitas personagens que fizeram parte dessa iniciativa.

Tudo o que me diz respeito, a começar por meu nome, e que penetra em minha consciência, vêm-me do mundo exterior, da boca dos outros (da mãe, etc.), e me é dado com a entonação, com o tom emotivo dos valores deles. Tomo consciência de mim, originalmente, através dos outros: deles recebo a palavra, a forma e o tom que servirão para a formatação original da representação que terei de mim mesmo (BAKHTIN, 2003, p. 378).

Segundo Bakhtin (2003), polifonia é a presença de outros textos dentro de um texto, causada pela inserção do autor num contexto que já inclui previamente textos anteriores que lhe inspiram ou influenciam. Assim, todas as vozes sociais que antecederam a ele ressoam em sua enunciação. Assumindo esse pressuposto, ressalto que a escrita que se desenvolve a seguir é fruto da relação com inúmeras pessoas (crianças e adultos) e, em particular, com a equipe da Gerência de Mídia-Educação, principalmente com a professora Adelaide Leo, uma das principais idealizadoras desse Projeto. Nas próximas linhas busco apresentar a trajetória dessa proposta e, quem sabe, incentivar outras experiências dessa relação entre Cinema e Educação. Iniciamos nossa conversa com um breve contexto sobre a criação de Projeto.

A exibição de filmes nas escolas não começou com o Projeto Cineclube nas Escolas. Ela já acontecia muito antes de sua criação. Os professores além da exibição, também produziam filmes e levavam seus alunos ao cinema. Só para ilustrar essa afirmação, cito o caso na década de 60 da professora Maria José Alvez que exibia e realizava com sua turma, em uma escola pública municipal do Rio de Janeiro, filmes. Maria José foi professora do cineasta Silvio Tendler e essa história foi contada por ele durante um evento promovido pela SME-RJ em 2010. Tendler é padrinho do projeto Cineclube nas Escolas e fez questão de afirmar que a professora foi a grande inspiração para ele seguir a carreira de cineasta.

Essas ações, no entanto, aconteciam de forma isolada e pontual, ou seja, não faziam parte de uma proposta planejada e integrada pela SME/RJ. Em 2008, a Gerência de Mídia-Educação criou o Projeto Cineclube nas Escolas que promoveu, de forma organizada e articulada, a aproximação do Cinema e a Educação. Ao invés de prescrever uma relação unívoca e previamente estabelecida de como realizar a proposta, buscou-se desde o início de sua implementação incorporar as experiências acumuladas anteriormente na rede, seguindo as pegadas dos profissionais que promoviam sessões de cinema na escola, como as deixadas pela professora Maria José, e incorporando os desvios e encontros na dinâmica do fazer pedagógico em sala de aula.

Logo que foi criado, foram instituídos a título de projeto-piloto 50 pontos de cineclube em unidades escolares, equipados com materiais para exibição – projetor, telão e caixas de som – e produção (filmadora). A 2ª fase do Projeto, iniciada em 2009, após a mudança de Governo, ampliou de 50 para 200 os pontos de cineclube na rede pública municipal. Em 2017, o número de unidades ultrapassava 250. Vale ressaltar que a inserção de novas unidades se deu de forma gradativa, considerando, entre outros aspectos, o interesse de participação da escola, os projetos estratégicos de cada gestão e a disponibilidade orçamentária, definidos a cada ano letivo.

O Projeto atravessou quatro administrações públicas municipais. Ele foi implementado no final gestão do prefeito Cesar Maia (2008) e continuou nas duas gestões seguintes de Eduardo Paes (2009-2012/2013-2016) e na de Marcelo Crivella (2017-2020). São poucas as iniciativas que perpassam de uma administração para outra, sem sofrer alterações em sua ideologia ou até mesmo em seu nome. No caso específico do Projeto Cineclube nas Escolas, posso afirmar que ele manteve sua premissa básica nesses últimos 10 anos e isso se deve em grande parte à continuidade (até 2017) da mesma equipe gestora à frente da Gerência de Mídia-Educação e de praticamente todo o grupo de professores que esteve presente na sua criação em 2008. Isso contribuiu para sua consolidação e expansão.

Cabe aqui esclarecer que a questão da continuidade e descontinuidade administrativa na gestão pública não é nova e nem exclusiva do município do Rio de Janeiro. Ela decorre da troca de políticos e gestores em níveis de direção durante a mudança de Governo. A descontinuidade se manifesta na interrupção de projetos, obras e ações, e na mudança de prioridades e metas. Tais rupturas resultam, muitas vezes, na perda de conhecimento acumulado (ou memória institucional), no retrocesso de algumas ações, além, de desperdício de recursos públicos.

Graças a uma base teórica sólida e o engajamento dos professores da rede à proposta, o Projeto permaneceu nas diferentes administrações mantendo-se fiel aos seus princípios iniciais de oferecer ao cinema um lugar diferenciado na escola: o de experiência na relação com a arte. Desde sua criação, o Projeto foi se modificando, ganhando feições próprias e vem se reinventando por força dos encontros com professores, alunos e parcerias que agregam importantes contribuições, além das mudanças de gestões. São essas personagens, de origens e formações variadas, que construíram, dia após dia, junto com a equipe da Gerência de Mídia-Educação, a fisionomia atual dessa proposta.

A inspiração francesa

A proposta do Projeto Cineclube nas Escolas teve forte inspiração no Plan de Cinq Ans pour les Arts et la Culture[3], criado na década de 2000 por Jack Lang, Ministro da Educação da França. Segundo ele, o objetivo era desenvolver as artes e a cultura nas escolas da rede pública de seu país juntamente com o Ministério da Cultura. No entanto é possível perceber nessa ação de políticas públicas uma intencionalidade de fortalecer a constituição do gosto e do cinema como patrimônio da cultura francesa.

Lang convidou o cineasta Alain Bergala para integrar a sua equipe como conselheiro do plano Les arts à l’école[4] e elaborar ações e materiais para reintroduzir a cultura cinematográfica nas regiões em que ela havia desaparecido e desenvolvê-la onde só se tinha acesso a filmes comerciais. Dos materiais produzidos por Bergala, destaca-se a coleção de DVD L'Éden Cinéma, com produções renomadas distribuídas para todas as escolas. Além de ser usada para trabalhar conteúdos curriculares e organizar estudos sobre o gênero propriamente dito, a coletânea era explorada para promover debates sobre as histórias. O objetivo desse DVD era facilitar o acesso ao que o cineasta chamou de baú de tesouros, disponíveis tanto para professores quanto para alunos.

Da proposta francesa foi extraída, basicamente, a ideia de levar o cinema para escola como arte e não apenas recurso pedagógico para ensinar um conteúdo curricular e a constituição de uma filmoteca – coletânea inicial de filmes em DVD capaz de ser uma alternativa ao cinema de consumo. Apesar do acesso aos filmes hoje em dia ser mais fácil, verifica-se, no entanto, que isso não garante a diversidade cultural. Normalmente, as produções que circulam no circuito das salas comerciais de cinema e nas telas de televisão e celulares privilegiam um determinado tipo de narrativa fílmica. Em relação a essa questão Duarte afirma que:

Como a maioria dos filmes a que eles (alunos) têm acesso são feitos dentro de um certo padrão estético e narrativo, a tendência é que se estabeleça, entre eles, um ciclo de ‘mais do mesmo’: vejo apenas o que gosto, gosto apenas do que vejo. O cineclube rompe com esse ciclo quando oferece aos aprendizes de cinema a possibilidade de ter acesso a diferentes tipos de filmes e, em especial, a obras que estão fora do seu padrão de gosto. (DUARTE, 2012, p. 3).

Partindo desse pressuposto, foi organizado um acervo de filmes nacionais de diferentes categorias e gêneros para as escolas que integravam o Projeto. Até 2017, o acervo de filmes reunia mais de 150 títulos[5], entre curta, médio e longa-metragens.

As unidades que integravam o Projeto eram orientadas a emprestar os equipamentos e acervo para outras escolas que desejassem realizar suas sessões cineclubistas. Com isso, era possível garantir a muitos outros alunos o acesso ao acervo, uma vez que o Projeto não estava presente em todas as unidades da rede pública municipal.

O que se pretendia com esse material era favorecer o contato de alunos e professores com outras estéticas, para além daquelas que dominam o mercado cinematográfico. Bergala (2008) já chamava a atenção para o fato de que o acervo de filmes selecionados pode modestamente ajudar na escolha do que assistir, por apresentar uma primeira triagem dentre uma infinidade de opções. Segundo ele, a iniciação artística pode começar às vezes por uma simples atitude de sensibilidade pedagógica: “colocar o bom objeto no momento certo ao lado da pessoa certa.” (BERGALA, 2008, p. 111).

Por que um cineclube na escola?

A proposta de cineclube propicia tanto para professores quanto para alunos o prazer e a reflexão acerca do filme por meio da experiência do cinema. Ela traz a exibição como ato de cultura e um poderoso instrumento de intercâmbio. O debate após a sessão visa garantir ao espectador um momento para compartilhar sensações e experiências. É importante esclarecer que não era intenção do Projeto ensinar a ver uma obra. Afinal, não existe uma forma certa ou errada de assistir a um filme, mas formas diferentes. O importante é valorizar as singularidades das percepções individuais.

Como afirma Bergala (2008), a arte não se ensina, mas se encontra, se experimenta e se transmite por outras vias além do discurso. Dessa forma, a escola pode possibilitar o encontro com o cinema, ajudar os alunos a entendê-lo melhor enquanto arte, mas não pode obrigar ninguém a ser tocado por um determinado filme. Este processo é absolutamente individual, ainda que ocorra numa situação de experiência coletiva. Então, é possível um aluno não gostar do filme e expressar seu descontentamento no momento da conversa após a exibição. Isso deve ser respeitado.

Desde sua criação em 2008, o Projeto conta com a consultoria do Cineduc[6], instituição com 50 anos de trabalho na área de Cinema e Educação, além de parcerias com universidades, como a PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica), para realizar sua proposta. Ele está organizado em três grandes eixos: acervo, ação cineclubista e formação.

O eixo acervo, além de oferecer às unidades uma coleção de filmes em DVD, também dispõe de livros que tratam da relação Cinema e Educação. Esse acervo reunia, em 2017, mais de 60 títulos, que circulavam entre professores e alunos. Novos títulos de filmes e livros, assim como equipamentos, eram adquiridos pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e encaminhados às unidades, conforme a disponibilidade orçamentária anual.

A infraestrutura para a realização da sessão é importante e também sempre foi um dos principais desafios para um Projeto com tantas unidades e com um orçamento tão enxuto. Embora o número de escolas que participavam do projeto fosse aumentando de um ano para o outro, a aquisição de equipamentos, filmes e livros não acompanhou o ritmo dessa ampliação. Sozinha, no entanto, a infraestrutura não garante a exibição ou produção de filme. Sem querer minimizar a importância de equipar as unidades, pois, sim, ela é importante para a realização adequada da proposta, mas essa foi a constatação a que cheguei após cinco anos à frente do Projeto. É preciso também o interesse e a colaboração de todos atores da escola (alunos, professores, funcionários e direção) para que este acervo e equipamentos sejam utilizados no ambiente escolar.

O segundo eixo do Projeto é a ação cineclubista na escola. A premissa que orienta esse eixo é a de que os alunos sejam responsáveis por todo o processo de exibição: da escolha do filme até a mediação do debate, passando pela elaboração da sinopse e ficha técnica e por toda a comunicação das sessões junto à comunidade escolar: cartazes, panfletos, folders, convites, propagandas nos jornais e rádios da escola.  A questão da ambiência da sala escura também era muito enfatizada, afinal, o cinema é um espaço de experiência, sensações e de encontros. Algumas escolas, inclusive, produziram com seus alunos suas próprias vinhetas para exibir antes da exibição de filme nas sessões cineclubistas, orientando os espectadores a desligarem o celular e não falar durante a sessão, como nas salas de cinemas comerciais. É o caso da E.M. Mário Piragibe, em Anchieta.

As unidades foram orientadas a realizarem regularmente pelo menos uma sessão cineclubista por mês. Outra diretriz apresentada pela SME-RJ durante os encontros com os professores era a importância de se manter um diálogo entre a ação cineclubista e a proposta pedagógica desenvolvida na escola, entendendo que esse movimento pode potencializar um conjunto de ações de desdobramento, permitindo, portanto, a articulação com diferentes campos do saber. Ao provocar o exercício regular de ver filmes na sala de aula, aproximando a Educação da experiência do Cinema, pretende-se contribuir para a formação dos alunos, estimulando eles desde cedo a buscarem, de forma mais consciente, novas experiências com as obras cinematográficas e a leitura de narrativas audiovisuais.

A conversa após a exibição do filme na escola visava, entre outros objetivos, incentivar o questionamento, o raciocínio e a interpretação, para levar cada aluno a contextualizar o que foi visto e a expressar sua visão de mundo. Para que um cineclube seja um cineclube, é fundamental que haja um momento de compartilhar impressões depois da exibição. Esse momento pode ser realizado entre alunos e professores ou pode contar com a presença de um convidado especial. O debate após a exibição qualifica a experiência cultural.

O segundo eixo prevê, também, a ida de alunos e professores às salas de cinema, uma vez que a ação cineclubista realizada na escola não exclui, pelo contrário, visa estimular a aproximação de alunos e professores aos bens culturais da cidade. Muitas crianças foram ao cinema pela primeira vez por meio dessa iniciativa. Os motivos delas chegarem aos 10 ou 12 anos sem nunca terem frequentado uma sala de cinema são muitos. Vai desde o valor do ingresso até a questão de que em alguns bairros da cidade ainda não possuem salas de cinema.

A ida ao cinema é desenvolvida em parceria com os principais festivais de cinema da cidade: Festival do Rio (Mostra Geração/Vídeo Fórum), Anima Mundi, Festival Internacional Pequeno Cineasta, Festival Internacional de Cinema Infantil (FICI), Visões Periféricas, Festival Ibero Americano de Cinema e Vídeo (Cinesul), Mostra do Filme Etnográfico, Filmambiente, Tela Brasil, Festival Internacional de Curtas (Curta Cinema), Varilux de Cinema Francês, Mostra Cinema e Direitos Humanos, entre outros. A pluralidade das parcerias garante a diversidade nas produções apresentadas aos professores e alunos, favorecendo a ampliação do repertório. Outra ação organizada nesse eixo é a circulação de mostras itinerantes nas escolas. Essa ação ampliou o acesso aos filmes de festivais. Também foram realizadas parcerias com plataformas digitais para exibição de filmes de seu acervo em sessões na escola.

Segundo Bergala (2008), ver e fazer são frente e verso de uma mesma práxis. Para esse autor, não basta a exibição de filmes e a provocação de debates sobre o conteúdo para a formação de subjetividades críticas. Faz-se necessário conhecer o processo de produção, suas técnicas, narrativas e linguagem, bem como discutir a intenção por trás de determinadas representações sociais. A realização de filmes nas escolas visa justamente possibilitar aos alunos a produção de suas próprias narrativas audiovisuais mediadas por professores, entendendo que muitas dessas crianças e jovens já são produtores fora da escola.

Muitos desses filmes produzidos em sala de aula são selecionados por festivais nacionais e internacionais. Em 2012, dos 43 filmes selecionados pelo Vídeo Fórum[7], da Mostra Geração do Festival do Rio, 22 foram produzidos por escolas municipais do Rio de Janeiro. Alguns deles chegaram a ser exibidos fora do Brasil. Destaco duas animações selecionadas por festivais na Argentina. São elas: “Maria-vai-com-as-outras”, da E.M. Burle Max, de Jacarepaguá, que participou do 9º Festival Iberoamericano de Cortos “Imágenes Jóvenes en la Diversidad Cultural”, e “Brincadeira de Criança”, do Ciep Presidente Agostinho Neto, do Humaitá, exibido no 11º Festival Internacional de Cine “Nueva Mirada” para la Infancia y la Juventud”. Normalmente, esses alunos-autores eram levados para assistirem suas produções na tela grande do cinema durante os festivais.

O terceiro eixo do Projeto é a formação. O professor não precisa ser crítico profissional de cinema para trabalhar com filmes, mas o conhecimento de alguns elementos de linguagem cinematográfica vai acrescentar qualidade ao trabalho. Para Napolitano (2003), boa parte dos valores e das mensagens transmitidas pelos filmes a que assistimos se efetiva nem tanto pela história contada em si, mas, sim, pela forma de contá-la. Daí o Projeto ter investido em formações de professores ao longo dos anos. Muitas delas realizadas em parceria com o Cineduc, outras com cineastas como Silvio Tendler, Tizuka Yamasaki, Jorge Furtado, Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi, em palestras e sessões cineclubistas para professores.

Como qualquer obra de arte, o cinema comunica algo e é capaz de desestabilizar o espectador. Isso acontece mais pela forma como os temas são desenvolvidos do que pelos temas propriamente ditos. Por isso, os vários aspectos da linguagem são relevantes para a sua compreensão: ângulo, enquadramento, interpretação, montagem de planos, sequência, fotografia (texturas e cores da imagem), etc.

 

Considerações finais

Nesses cinco anos à frente do Projeto, testemunhei o entusiasmo de muitas crianças e adultos na experiência com o cinema mediada pela escola. Sejam nas sessões realizadas nas salas de aulas, nas idas ao cinema ou nas criações de suas próprias histórias com imagens em movimento e sons. Antes mesmo da promulgação da Lei 13.006, de 2014, que propõe a obrigatoriedade da exibição de pelos menos duas horas mensais de filmes nacionais no Ensino Fundamental, o Projeto já propunha aos professores a realização regular de exibição de filmes nas salas de aula, de forma intencional e planejada. Poucos projetos criados na administração pública, em especial na interface Cinema e Educação, (re)existem a mais de 10 anos.

É claro que há muito ainda que se avançar nessa proposta. O Projeto não está posto e acabado, mas em constante modificação para adequar-se à realidade da escola atual e às necessidades da comunidade escolar.

Pela frente há muitos desafios. O principal deles é consagrar-se como política pública carioca no campo da Mídia-Educação e ter seu espaço de realização garantido em qualquer mudança de Governo. Além disso, é importante ampliar seu raio de ação a todas as escolas da rede pública municipal do Rio de Janeiro, mantendo sua premissa básica de levar o cinema para a sala de aula como arte, a partir de uma visão coletiva e democrática. Isso, no entanto, implica em recursos. Em uma rede do tamanho da do Rio de Janeiro, onde os problemas e necessidades são sempre muito grandes, essa questão é sempre desafiadora.

Apenas exibir filme na escola não contribui diretamente para a formação do aluno enquanto sujeito pensante, crítico e formador de opinião, mas, sim, um conjunto de intenções planejadas para alcançar esse objetivo. O Projeto Cineclube nas Escolas ofereceu ao Cinema um lugar novo na escola. Um espaço que se constrói na relação afetiva de professores e alunos com a experiência cinematográfica.

Compartilhar a experiência dessa iniciativa na área de Cinema e Educação, criada e implementada pelo próprio poder público municipal, me permite olhar para trás com esperança pelo que vem pela frente. Hoje é possível encontrar muito mais projetos de cinema na escola que vão além do uso instrumental do filme, que investem na potência da obra de arte como forma de expressão artística. A maioria deles propostos pelas universidades, festivais de cinema, organizações não governamentais. Poucos ainda pelos próprios gestores públicos. A expectativa é provocar outras iniciativas institucionais que reconheçam o outro lugar que o cinema ocupa na sala de aula. O lugar de obra de arte, linguagem e cultura.

 

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BERGALA, A. A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Trad. Mônica Costa Netto, Silvia Pimenta, Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/ UFRJ, 2008.

BOURDIEU, P.. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

DUARTE, R. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

DUARTE, R. O cinema de cada um. Texto apresentado na abertura da aula inaugural do Projeto Cineclube nas Escolas, 2012. Disponível em: <http://cineclubesmerj.blogspot.com.br/>. Acesso em: 6 de mar. 2015.

NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.



[1] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ. MestrA pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ. Especialista em Mídia-Educação pela UFRJ. Tutora da disciplina Imagem, Cultura e Tecnologia, pela Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ/UERJ). Professora concursada da Rede Pública Municipal de Educação do Rio de Janeiro desde 1990. E-mail: bessalu@yahoo.com.br

[2]O Projeto Cineclube nas Escolas foi criado em 2018, na então Divisão de Mídia-Educação que em 2012 passou a ser chamada de Gerência de Mídia-Educação. Em 2018, após nova mudança na estrutura da SME/RJ, ela recebeu a denominação de Gerência de Leitura.

[3]Tradução: Plano de Cinco Anos para as Artes e a Cultura.

[4]Tradução: As artes na escola.

[5] Relação dos filmes do acervo em anexo (2017).

[6] Cineduc: Cinema Educação é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 1970 e declarada de utilidade pública em 1984.

[7]Trata-se do segmento infanto-juvenil do Festival do Rio, que desde 2000 leva anualmente à tela grande do cinema a expressão audiovisual das crianças e jovens.

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