última atualização 09-01-2023

Dicionário da Educação Audiovisual - CINEMA ESCOLEIRO E CINEMA SKHOLEIRO


Daniele Grazinoli
Doutoranda no PPGE/UFRJ
Cineasta Escoleira


Ô Dani, tive uma ideia! 
Cinema na sala de movimento
é CINEMENTO! (Carlos, estudante de 5 anos)[1]

 

        Nossa pesquisa começou quando, imitando o menino Carlos, inventamos de nomear de Cinema Escoleiro e Cinema Skholeiro os encontros e acontecimentos de ver e fazer cinema na escola, dando sentido ao desejo de cartografar os arquivos da escola de cinema Cinemento, produzidos entre os anos de 2014 e 2016, com o objetivo de realizar uma pesquisa sobre os possíveis fluxos dos cinemas e das infâncias no espaço-tempo escolar.

As atividades da Cinemento (Cinema Movimento) aconteceram na então Escola de Educação Infantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEI-UFRJ) [2], sob a minha coordenação, supervisionadas pela coordenadora pedagógica da época, a técnica em assuntos educacionais Carla Vidal, e em parceria como o Grupo de Pesquisa CINEAD[3]/LECAV - Cinema, Aprender e Desaprender/Laboratório de Educação, Cinema e Audiovisual, da Faculdade de Educação da UFRJ.

Nos interessa compreender quando e como acontece dessa escola se transformar em uma locação de filmes possíveis, na qual o cinema suspende o tempo ditado pelas lógicas neoliberais e reencontra um tempo de infância.

Jogamos luzes e sombras sobre formas que se constituem nas relações de saber-poder como um emaranhado de elementos heterogêneos, que se articulam ética, estética e politicamente, tornando ou não visíveis e/ou dizíveis determinadas histórias, certos saberes e conhecimentos, e as maneiras de existir de bebês, crianças e adultes[4]. Formas com as quais podemos imaginar e realizar uma vida mais que vivível e nada fascista[5] quando se filma um minuto do cotidiano escolar ou quando se ocupa o refeitório para exibir filmes para as cozinheiras.

O fizemos pensando a educação, a escola, a infância e o cinema com atravessamentos diversos, sob inspiração da filosofia foucaultiana e das reflexões sobre cinema e educação, estabelecendo diálogos ao longo da tese com a pedagogia, com a psicologia, com a filosofia da diferença, a filosofia da infância, com a sociologia da infância, com os estudos culturais, entre outros.

As nomeações Cinema Escoleiro e Cinema Skholeiro são criações impregnadas de uma atitude brincante, diante de uma inquietação frequente que sentíamos por não sabermos como nomear as realizações que envolvem ver e fazer filmes na escola.

Essa atitude tem a ver com reconhecermos que foi aprendendo que percebemos ser possível ensinar (FREIRE, 2000, p. 49) nos encontros com o cinema na escola, acompanhantes das crianças nas brincadeiras de dar nomes às coisas, profanando as prováveis prerrogativas dos adultos nas disputas de saber-poder, através das quais se outorgam o poder de estabelecer as verdades a serem ditas e visibilizadas.

Acreditamos que a importância mais radical da introdução do cinema no contexto escolar consiste em salvaguardar um espaço e um tempo para o encontro: do cinema com a infância, da criança com o adulto, e do adulto com a criança que, escondida, ainda o habita” (FRESQUET, 2013, p. 52).

Também tem a ver com um cuidado em reconhecer e pontuar que há diferenças entre algumas propostas de encontros com o cinema nas escolas. Em alguma medida, podemos identificar que as experimentações com o cinema na escola se aproximam do que Parente (2008) define como cinema expandido, cinema de atração e cinema de exposição (p. 52 e 53). O que há de comum nas diferentes formas de encontros com o cinema nas escolas talvez seja a ideia de transformar o dispositivo do cinema em suas dimensões básicas (arquitetônica, tecnológica e discursiva)” (PARENTE, 2008, p. 53).

A pesquisa se constituiu pelo exercício de teorizar, com os arquivos da Cinemento, o que nomeamos como Cinema Escoleiro e Cinema Skholeiro. Para tanto, partimos de dois pressupostos: o primeiro é pensar o Cinema Escoleiro como um conjunto das práticas e produções com o audiovisual já existentes nos cotidianos escolares, motivado tanto pela necessidade de uma documentação de cunho pedagógico, que contribua com a divulgação cultural e científica dos fazeres e dos saberes que constituem uma forma escola, quanto pelo encontro com as diversas linguagens, visibilizadoras e produtoras da diferença como potência, que inspire currículos constituintes de uma vida mais que vivível.

Entendemos que estas práticas e produções são atravessadas por relações entre saberes e poderes, o que torna importante compreendê-las a partir de regularidades e racionalidades nos modos de fazeres-saberes, que as situam em um campo que se constitui por táticas e estratégias pedagógicas, com orientação disciplinar e dimensões estéticas, políticas, éticas e poéticas.

Com efeito, para realizar esse exercício de compreensão, somos desafiades a superar a ideia de “poder” em termos negativos, para percebermos como ela produz as realidades e as verdades que afetam a produção das subjetividades de indivídes, dos fazeres, dos saberes e dos conhecimentos (FOUCAULT, 2000).

Intuímos que o cinema nos ajuda nesse exercício quando, mais que representar o poder pelo poder, nos faz pensar com a infância, por exemplo, as formas do conhecimento se fazer, as formas do mundo cuidar ou não das crianças, as formas de luto, as maneiras de as crianças inventarem e alterarem a comunidade em que vivem e as profanações infantis” que desnaturalizam a vida, inclusive as concepções de poderes e hierarquias (MIGLIORIM, 2015, p. 8).

O segundo pressuposto é o de pensar que o Cinema Skholeiro transborda do Cinema Escoleiro como um acontecimento intempestivo, que se deve ao fato da experimentação com o cinema criar, na escola, as condições para a instauração de um tempo de infância na infância de um tempo de vida, nomeado por Heráclito como aión (KOHAN, 2003).

Este acontecimento na escola – um espaço-tempo cuja nomeação deriva da palavra grega skholé (com sentido de “lazer”) – é a possibilidade da experiência do tempo livre, da ociosidade amorosa, em que as normatividades que regulam a vida (o capital, as religiões, as identidades etc.) são expostas, postas em suspensão e sob suspeição. Assim, quem sabe, reinventemos a nós e o mundo, superando as lógicas que produzem as desigualdades e um atoleiro de carências simuladas quando deixamos de compreender a diferença como potência.

Para chegarmos a inventar esses nomes e possíveis significados, como quem experimenta o momento poético do pensamento (AGAMBEN, 2014), vivenciamos muitas experiências empíricas e teóricas que envolvem cinema, educação e infância em escolas situadas na cidade do Rio de Janeiro, da Educação Infantil à Pós-graduação, seja como estudantes, como e com famílias e/ou como profissionais da educação.

Estas experiências aconteceram no âmbito do grupo de pesquisa CINEAD/LECAV, da Faculdade de Educação, que está vinculado à linha de pesquisa Formação Docente, Linguagens e Subjetividade do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPGE/UFRJ.

Com referência nas ações do CINEAD[6], os encontros com a sétima arte na escola foram atualizados, começando por transformar a maneira de assistir os desenhos animados, que eram exibidos exclusivamente nos aparelhos de reprodução de DVDs ligados aos aparelhos de televisão de vinte polegadas.

Crianças e adultes perceberam a diferença entre a utilização destes aparelhos e o cenário que se montava para acontecer o cinema: as luzes apagadas; os raios de sol contidos pelo plástico autoadesivo preto, colado nos vidros das janelas; a projeção do filme na tela ou na parede, em dimensões muito maiores do que as da televisão; e a caixa de som potente em uma sala escura. Estes eram alguns dos elementos que tentavam produzir um contexto de exibição para fruição da arte.

Para além da forma de exibição, a diversidade e a diferença estavam presentes em suas dimensões éticas, estética, poéticas e políticas na curadoria dos filmes dos mais variados gêneros – animações, documentários, ficção etc. – nas sessões de curta-metragem e longa-metragem que passaram a acontecer na escola.

Três cineclubes foram criados e aconteciam com demandas diferentes: o primeiro foi criado com o desejo de reunir toda a escola para ver filmes que tivessem como mote a infância, em suas mais variadas possibilidades; o segundo foi criado por demanda das pessoas que atuavam na cozinha da escola, porque não conseguiam participar das atividades fora do local de trabalho e além do horário do serviço; e o terceiro foi criado por iniciativa de responsáveis e pessoas da equipe técnica da escola, que se juntaram à escola de cinema e promoveram sessões com debates sobre filmes propostos pelas pessoas adultas da comunidade escolar.

Nossas ações incluíam também a experimentação de fazer cinema com bebês, crianças e adultes, o que gerou horas de filmagens e a edição de alguns filmes que foram exibidos nas sessões do cineclube da escola, em mostras de cinema e em eventos de educação.

Essa profusão de experimentações e de experiências nos provocaram a pensar sobre os encontros com o cinema na escola e nos levaram a definir como campo da pesquisa os arquivos da escola de cinema Cinemento, uma iniciativa que integrava o conjunto de projetos culturais da Escola de Educação Infantil da UFRJ entre os anos de 2014 e 2016.

Mergulhamos nos arquivos por diversas vezes, dando-lhes atenção e vendo surgir pressupostos e achados da pesquisa, inclusive as nomeações de Cinema Escoleiro e Skholeiro. Os filmes, que nos fazem pensar sobre o acontecimento de um cinema profanador do espaço-tempo escolar tradicional e do cinema hegemônico, foram escolhidos dentre aqueles cujas exibições extrapolaram os muros da EEI-UFRJ, como a Mostra de Cinema de Ouro Preto – CINEOP, a Mostra Geração do Festival do Rio de cinema, a Mostra Audiovisual Estudantil Joaquim Venâncio e no Espaço Cinema da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação - ANPEd.

O objetivo geral da pesquisa foi compreender como e quando a escola, entendida como um dispositivo disciplinar, se transforma em uma locação de filmes possíveis.

O fizemos como um exercício filosófico, teorizando sobre o Cinema Escoleiro como uma tecnologia, cujas práticas são constituídas por táticas (meios) de saber, estratégias (fins) de poder e procedimentos discursivos (FOUCAULT, 2017) e que, ao criar as condições para a instauração de um tempo de infância na escola, “devolve” a condição de infância às pessoas que se encontram em uma escola de Educação Infantil quando desorganiza a estrutura disciplinar e suspende as práticas escolarizantes, no acontecimento profano do Cinema Skholeiro, entendido como um contradispositivo (AGAMBEN, 2014).

Importante dizer que o tempo de infância ao qual nos referimos nessa pesquisa tem a ver com o que alguns autores identificam como tempo skholé, que faz referência ao senso de “tempo livre” ou de “lazer” com o qual se funda a escola na Grécia Clássica, como espaço “para liberar o tempo dos seus habitantes de outra coisa que não seja o próprio estudo e exercício, na busca da formação de si” (KOHAN, 2017, p. 11).

Na pesquisa, esse tempo que restitui a condição de infância é a possibilidade de experimentação de uma escola como um dispositivo que, dentre muitos aspectos e idiossincrasias, também protege bebês e crianças das lógicas neoliberais que normatizam o processo educativo e insistem em fazer com que crianças sejam “alfabetizadas precocemente e antecipando-se todas as consequências desse processo de uma escolarização sem infância: fracasso escolar, racismo precoce, interdição do corpo, da brincadeira e da alegria” (ABRAMOWICZ, 2017, p. 15), por exemplo.

Ou ainda, um tempo e uma condição em que a infância se manifesta como potência e exposição e intensifica a educação pela relação pedagógica, como propõem Masschelein & Simons ([2003] 2014):

É porque, ou quando, a infância se manifesta como potência e exposição, que a posição do mestre se torna possível (pode se evidenciar) e que um espaço pedagógico se abre. O espaço pedagógico não é, pois, uma infraestrutura ou uma instituição preexistente, em que mestre e criança se introduzem para produzir o aprendizado. O espaço pedagógico abre-se com a interrupção da pedagogia e da instituição, com a separação do “aluno” em relação a si mesmo. Apenas neste espaço pode o mestre aparecer como aquele “que mantém o que busca em seu caminho, onde está sozinho a pesquisar e o faz incessantemente” (MI, p. 57) – não como aquele que transmite o saber, mas como aquele que sustenta a vontade. Portanto, em certo sentido, o mestre é aquele que mantém o homem na infância. (p. 39)

Para chegarmos aos nossos objetivos, nos dedicamos também a um exercício filosófico a partir de um olhar que López (2017) sugere que seja “cinematográfico”, à medida que confronta a ideia que se tem sobre as coisas e as coisas em seu estado bruto, e que o levou a defender a tese de que a câmera filmadora pode nos revelar “pequenas porções da vida cotidiana” que nos fazem pensar sobre as diferentes formas da escola.

A nós interessa inventar uma ficção e, quem sabe, realizar a escola como um acontecimento intempestivo e de fruição de um tempo de infância, dissociado, inclusive, da noção etária, que nos revele um devir-escola pelas vidas e pelas mortes captadas pelas câmeras utilizadas por bebês, crianças e adultes que nela  se encontram.

Buscamos na cartografia as bases para desenlear o emaranhado das linhas de visibilidade, de enunciação, de força, de subjetivação e de fuga que constituem a escola da infância e o cinema como dispositivos, o Cinema Escoleiro como uma tecnologia e o Cinema Skholeiro como um contradispositivo.

As diferentes versões do Projeto Político Pedagógico da escola onde foram produzidos os arquivos da escola de cinema Cinemento – a Escola de Educação Infantil da UFRJ – orientam nossos discursos sobre fazeres e saberes que compõem uma determinada cultura pedagógica da escola e podem ser consideradas como linhas de visibilidade em permanente invenção. Estas versões também tornam possível reconhecer linhas de enunciação e de força que incluem leis, enunciados científicos, sociológicos, filosóficos, estéticos etc.

As linhas de subjetivação e de fuga que nos interessam encontram-se emaranhadas nas experimentações práticas com o cinema na escola e constituem o Cinema Escoleiro, entendido como uma tecnologia que atualiza os dispositivos escola e cinema, mas também cria as condições para o acontecimento do Cinema Skholeiro como contradispositivo, quando desorganiza a estrutura disciplinar e suspende as práticas escolarizantes, profanando o dispositivo escolar pela experimentação com o dispositivo cinematográfico.

Então, partindo do pressuposto de que o Cinema Escoleiro cria as condições para um acontecimento intempestivo, que devolve o tempo de infância à escola, na invenção de um Cinema Skholeiro, e que também nos dá a ver uma dimensão de uma escola da infância, entendida como uma construção social moderna, atravessada pela complexidade de redes de saberes e de poderes que produzem diferentes imagens e práticas, inclusive as pedagógicas[7], e constituída por linhas de visibilidade, de enunciação, de força, de subjetivação e de fuga que se entrecruzam e se misturam, nos perguntamos: como e/ou quando o cinema skholeiro acontece? Quais são as táticas (meios) e as estratégias (fins) constituem o conjunto de experimentações com o cinema na escola, caracterizando o cinema escoleiro? Qual escola da infância o cinema skholeiro nos provoca a pensar? Quais imagens de bebês, crianças e adultes são formadas com o cinema skholeiro?

A pesquisa nos coloca como reflexão que estas perguntas estarão colocadas de maneira contínua para nós que entendemos que Cinema Skholeiro é um acontecimento e que, por essa característica, é uma experiência da diferença no espaço-tempo escolar, demonstrando que um devir está sempre colocado como possibilidade de criar formas de ver e de existir em um mundo provisório, mais que vivível e nada fascista.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOWICZ, Anete. Introdução. In: ABRAMOWICZ, Anete; TEBET, Gabriela Guarnieri de Campos (Org.). Infância e pós-estruturalismo. São Paulo: Porto de Idéias, 2017. p. 15-26.

AGAMBEN, G. O que é dispositivo. In: AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? & O amigo. Chapecó: Argos, 2014.

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

FRESQUET, Adriana. Cinema e educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

FOUCAULT, Michel. O anti-Édipo: uma introdução à vida não fascista. In: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34. 2010 [1972].

__________________. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. São Paulo: Paz & Terra, 2000.

___________________. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017. Roberto Machado (org.).

KOHAN, Walter. Infância. Entre Educação e Filosofia. Belo Horizonte: autêntica, 2003.

______________. Prefácio. In: ABRAMOWICZ, Anete; TEBET, Gabriela Guarnieri de Campos (Org.). Infância e pós-estruturalismo. São Paulo: Porto de Idéias, 2017. p. 11-14.

LÓPEZ, Maximiliano Valerio. Filmar a escola: teoria da escola. In: Larrosa, Jorge (Org.). Elogio da escola. Belo horizonte: Autêntica, 2017. 318 p. (Coleção Educação: Experiência e Sentido).

MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá. Rio de Janeiro: Azougue, 2015.

PARENTE, André. Cinema de exposição: o dispositivo em contra/campo. In: Revista Poiésis, n. 12, p. 51-63, nov. 2008.



[1] As frases das crianças e dos adultos que fizeram parte da história da escola de cinema Cinemento foram trazidas dos cadernos de campo e das filmagens realizadas na Escola de Educação Infantil da UFRJ entre os anos de 2014 e 2016.

[2] A integração da Educação Básica na UFRJ se formalizou em 18/06/19, quando aconteceu a sessão especial do Conselho Universitário, que aprovou por unanimidade a mudança estatutária da UFRJ para unificar a Escola de Educação Infantil (EEI) e o Colégio de Aplicação (CAp). A EEI-UFRJ passa a operar como o Setor Curricular da Educação Infantil (CApEI) e as atividades continuam acontecendo em sua sede de origem: na Ilha do Fundão. Nossa pesquisa focaliza a existência da escola de cinema Cinemento no tempo em que essa unificação ainda não havia ocorrido e por isso nos referimos à Escola de Educação Infantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro – EEI-UFRJ.

[3] O grupo CINEAD, do Laboratório de Educação, Cinema e Audiovisual – LECAV, reúne ações de ensino, pesquisa e extensão universitária, relacionando essas três instâncias em diálogo com todos os segmentos da educação formal e em diversos ambientes de educação informal. Da Educação Infantil à Pós-graduação, escolas de tempo integral e parcial, institutos para educação de pessoas com deficiência (Instituto Benjamin Constant e Instituto Nacional de Educação de Surdos), ala geriátrica do Hospital Universitário da UFRJ e pediátrica no Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira da UFRJ, Cinemateca do Museu de Arte Moderna-Rio, centros socioeducativos, e se integra à comunidade de aprendizagem com propostas extensionistas que logo se constituem em campos de pesquisas de mestrados e doutorados, cenários de cursos de formação docente.

[4] A letra “e” e a letra “u” são desinências nominais utilizadas para produzir uma linguagem neutra que inclua pessoas que não se reconhecem na norma binária de gênero. O debate sobre a linguagem neutra está acontecendo e, por enquanto, não há registro de formalização das possíveis formas de utilizá-la. Estou adepta das teorias que defendem que a língua é viva e fluida, que acompanha as mudanças na sociedade e que deve ser inclusiva, como mecanismo de fazer da escrita um momento de prestar atenção a sexismos, capacitismos e binarismos presentes na forma como nos relacionamos cotidianamente. Ainda assim, é provável que o texto reproduza tais vícios, mesmo que o esteja escrevendo com atenção ao que já foi proposto como linguagem neutra até agora.

[5] “Imaginar e realizar uma vida mais que vivível e nada fascista” é uma expressão que aparecerá em muitos momentos da tese. A inspiração deriva da leitura do texto O anti-Édipo: uma introdução à vida não fascista, escrito por Michel Foucault para abrir o livro O anti-Édipo – Capitalismo e Esquizofrenia (1972), de Félix Guattari e Gilles Deleuze, conjugada às reflexões de Judith Butler (2015) sobre o que é uma vida. É uma expressão que dá materialidade ao desejo de “possíveis” para respirarmos no presente. Entre o compromisso de escrever uma tese e tudo pelo que estamos passando nesse momento histórico, está a impossibilidade de deixar de ter esperança e uma urgência de pensar e agir de maneira antifascista. A escrita da tese talvez seja uma experiência heterotópica de um possível no presente.

[6] As informações sobre o CINEAD estão disponíveis em: www.cinead.org.br.

[7] Tanto as imagens quanto as práticas pedagógicas são pensadas na pesquisa a partir de diferentes olhares, mas com uma significativa contribuição de Masschelein e Simons ([2003] 2014), quando diferenciam o que é o regime pedagógico ou a pedagogia do que é o pedagógico e, consequentemente, diferenciam aluno e a infância. Os autores partem de dois textos de Rancière – O mestre Ignorante e Un enfant se tue (Uma Criança se mata) – para fazerem uma analogia que nos convida a suspeitar da pedagogia que focaliza a “identidade do aluno consigo mesmo”, entendida como aquilo que lhe é entregue “como inteligibilidade”, como “tudo o que o representa na ordem da realidade e da compreensão”, e que o surgimento da infância possibilita que ele rompa e supere essa condição ensimesmada e abre “espaço para o pedagógico, cujo desafio é a indeterminação e o futuro(p. 34).


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