última atualização 09-01-2023

Dicionário da Educação Audiovisual - TRABALHO

  







Maria Cristina Paulo Rodrigues
mcristina@id.uff.br
Profª da Escola de Serviço Social/UFF;
 estudiosa da temática do trabalho e
dos/as trabalhadores/as; e dos sindicatos.

 

 

O trabalho como princípio fundador da humanidade 

Falar sobre o trabalho é, em primeiro lugar, falar sobre a própria existência humana (ou do ser social), que deve ser compreendida a partir da relação homem[1]/natureza, na qual o homem (com sua inteligência e suas forças) atua sobre a natureza, transformando-a e dando-lhe formas úteis à sua vida. Ao atuar sobre a natureza, modificando-a, também transforma a sua própria natureza e desenvolve capacidades antes adormecidas (HIRATA e ZARIFIAN, 2009, p. 252).

Engels (2004, p.4), em seu texto Sobre a importância do trabalho na transformação do macaco em homem[2]destaca exatamente esta dimensão do trabalho, ao afirmar que ele é “a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau, que a certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o homem.”

A partir de uma detalhada descrição do lento desenvolvimento humano, com particular destaque para a mão – fundamental para a relação/transformação da natureza, até a laringe (para que a voz e a comunicação entre o grupo se tornassem possível), chegando ao crescimento e desenvolvimento do cérebro e dos sentidos como audição, olfato, tato, o autor afirmava que tal desenvolvimento distinguirá o mais selvagem dos homens dos animais mais inteligentes e capazes de adaptação. E isso só é possível pelo trabalho, atividade que encerra também a marca da vontade e do planejamento humano e é o que explica a vida social:

Graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro, não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram aprendendo a executar operações cada vez mais complexas, a propor-se e alcançar objetivos cada vez mais elevados. O trabalho mesmo se diversificava e aperfeiçoava de geração em geração, estendendo-se cada vez a novas atividades. À caça e à pesca veio juntar-se a agricultura, e mais tarde a fiação e a tecelagem, a elaboração de metais, a olaria e a navegação. Ao lado do comércio e dos ofícios apareceram, finalmente, as artes e as ciências; das tribos saíram as nações e os Estados. Apareceram o direito e a política, e com eles o reflexo fantástico das coisas no cérebro do homem: a religião. (ENGELS, 2004, p. 18)

Engels, no entanto, alerta para os desdobramentos de tal complexificação das atividades humanas. Um destes desdobramentos está associado ao uso predatório da natureza (e sua “vingança” através de secas, inundações, dentre outros fenômenos que castigam e condenam partes cada vez maiores do planeta), que vimos comprovando de maneira cada vez mais aguda na atualidade e que pode explicar, inclusive, alguns aspectos da pandemia da covid-19, que se abateu sobre todo o globo a partir de 2020.

Outro desdobramento se refere à atribuição do “progresso” da civilização exclusivamente ao desenvolvimento e às atividades do cérebro[3]. Engels destaca, então, que uma das consequências é que as produções mais simples, fruto do trabalho das mãos, ficaram relegadas a segundo plano e revelaram, inclusive, a possibilidade de que a ação planejada fosse realizada por mãos diferentes daquelas cuja cabeça a idealizou.

Este conjunto de transformações inauguram, assim, as relações sociais de exploração e dominação que sustentarão as sociedades posteriores à comunidade primitiva[4], sustentadas na divisão social (e sexual-racial) do trabalho e na propriedade privada dos meios de produção. Sob o capitalismo, estas relações assumirão grau cada vez mais complexo, viabilizadas por um extraordinário desenvolvimento técnico-científico, que, por sua vez, possibilitará uma produção cada vez maior e mais socializada de bens, enquanto a apropriação da riqueza se dá de modo privado e cada vez mais concentrado.

Por isso, falar sobre Trabalho é, necessariamente, falar também sobre sua face histórica, que explica as relações de exploração, de controle do trabalho e dos(as) trabalhadores(as) e, em contraposição a essas relações, também as resistências e as lutas.


A exploração do trabalho – ou trabalho e estranhamento 

O trabalho é constitutivo das relações sociais de qualquer contexto histórico, incorporando elementos de criação, cooperação, dominação, poder, oposição, conflito, adesão, consentimento (HOLZMANN, 2012), elementos estes derivados das condições em que é executado, da forma como é organizado e das finalidades ou objetivos que encerra.

No capitalismo, a dimensão transformadora/criadora do trabalho ficará subsumida pela sua dimensão abstrata, que é a capacidade geral da força de trabalho em produzir valores de troca. O trabalho torna-se, então, uma mercadoria como outra qualquer. Daí, porque Antunes (2009, p. 233) vai afirmar que no capitalismo o trabalho assume uma dupla dimensão, “que ao mesmo tempo cria e subordina, emancipa e aliena, humaniza e degrada, oferece autonomia, mas gera sujeição, libera e escraviza”.

Em seus Manuscritos Econômico-Filosóficos, de 1844, Marx (2004) explica esse processo como trabalho exterior/estranhado ao trabalhador. Exterioridade/estranhamento que não se restringe apenas ao produto do seu trabalho (que não mais lhe pertence), mas se estende também ao próprio processo de trabalho e que tem repercussão e desdobramentos para um estranhamento à sua própria condição de ser genérico (humano universal[5]): 

Primeiro, que o trabalho é externo (äusserlich) ao trabalhador, isto é, não pertence ao seu ser, que ele não se afirma, portanto, em seu trabalho, mas nega-se nele, que não se sente bem, mas infeliz, que não desenvolve nenhuma energia física e espiritual livre, mas mortifica sua physis e arruína o seu espírito. O trabalhador só se sente, por conseguinte e em primeiro lugar, junto a si [quando] fora do trabalho e fora de si [quando] no trabalho. Está em casa quando não trabalha e, quando trabalha, não está em casa. O seu trabalho não é, por isso, a satisfação de uma carência, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele. Sua estranheza (Fremdheit) evidencia-se aqui [de forma] tão pura que, tão logo inexista coerção física ou outra qualquer, foge-se do trabalho como de uma peste. O trabalho externo, o trabalho no qual o homem se exterioriza, é um trabalho de auto-sacrifício, de mortificação. Finalmente, a externalidade (Äusserlichkeit) do trabalho aparece para o trabalhador como se [o trabalho] não lhe pertencesse, como se ele no trabalho não pertencesse a si mesmo, mas a um outro. (MARX, 2004, p.82-83)  

 Se o trabalho no capitalismo adquire, predominantemente, um caráter de degradação e estranhamento, não se pode afirmar, no entanto, que ele não seja mais necessário para a reprodução social[6]; e que, ainda que num contexto de agravamento dessa degradação (como a que vivemos sob o capitalismo neoliberal-financeirizado), esteja eliminada a possibilidade da disputa, pois como disse Harvey (2011, p.88) “o processo de trabalho é sempre um campo de batalha perpétua” entre capital-trabalho, onde a inovação tecnológica representa, historicamente, sob a perspectiva do capital, “o desejo de enfraquecer o trabalhador tanto quanto possível e passar os poderes de movimento e decisão para dentro da máquina” (p.89), exatamente porque no processo de trabalho, o trabalhador é o “agente criador”, deixando o capitalista dependente dessa agência.

   

Trabalho e resistência

É nessa perspectiva, sem negar a crise que se abate sobre o trabalho e também sobre as formas de organização da classe trabalhadora (mormente, os sindicatos) ao longo dos últimos 40 anos, tanto nos países centrais quanto nos periféricos como o Brasil, que partilhamos da ideia de Scott (2013, p. 83), de que “as relações de dominação são, simultaneamente, relações de resistência”. Perspectiva que também está presente em Braga (2012, p. 218): ao estudar os trabalhadores que ele denomina como precariado (predominantemente jovem, negros, com baixa escolaridade, e em trabalhos temporários, terceirizados), o autor indica que o que os marca é um “estado permanente de inquietação social” e não uma passividade, como alguns estudiosos chegaram a vaticinar.

Se tomarmos o acontecimento mais recente do Breque dos Apps, uma paralisação organizada pelos trabalhadores de aplicativos, em julho de 2020, em plena pandemia, podemos compreender que mesmo os segmentos mais precarizados da classe trabalhadora resistem e se organizam para responder à ação do capital[7]. Assim como as ações postas em prática por sindicatos de trabalhadores, em todo o país, no enfrentamento das medidas governamentais e das empresas no tocante à pandemia, também podem ser tomadas como medida da sua mobilização e movimentação[8].          

Toda essa complexificação das relações sociais que podem ser entendidas a partir da análise do trabalho estão retratadas nas telas do cinema e podem se constituir como significativas ferramentas para a reflexão sobre o sofrimento (físico e mental) imposto pelo trabalho estranhado, mas também na perspectiva da defesa de uma vida cheia de sentido (ANTUNES, 2000), dentro e fora do trabalho.

 

Trabalho e Cinema

Holzmann (2012), em seu livro O trabalho no cinema (e uma socióloga na plateia), inicia seu texto dizendo que em 28 de dezembro de 1895, quando os irmãos Lumiére exibiram seu invento – que viria a se transformar num dos “mais importantes meios de registro histórico ou ficcional” da experiência humana, os breves 15 segundos daquela primeira cena retratavam “a saída dos operários (a maioria mulheres) da fábrica da família Lumiére em Lyon” (p.9). E podemos dizer, ainda em concordância com a autora, que, desde então, o trabalho tem feito parte de inúmeras histórias que povoam as telas do cinema. Drama, comédia ou suspense; ficção ou documentário; como crítica ou em defesa de determinada concepção de mundo, encontramos nos filmes elementos que nos permitem a aproximação com realidades às vezes desconhecidas, às vezes conhecidas demais, abrindo a possibilidade de análise das várias dimensões (conflituosas) do trabalho na vida moderna.    

 Além dos aspectos artísticos que essas histórias do trabalho no cinema exprimem, há que se destacar ainda o seu potencial educativo. Sobre isso, trataremos a seguir.

 

Reflexões sobre Trabalho e Cinema a partir da experiência com a Educação de Trabalhadores(as)

A educação de trabalhadores(as) - tanto no seu sentido formal/escolar, quanto no informal, ligado especialmente aos movimentos sociais e à prática política-, tem sido também um espaço de aprendizado para os(as) educadores(as), além de trazer inúmeros desafios no que se refere a conteúdos, métodos, ferramentas. Nesse sentido, o cinema e outras formas de arte, como a fotografia, a música, a literatura, têm sido incorporadas como importantes instrumentos para uma formação crítica e potente, tanto pelo que estes recursos revelam sobre a ação humana (no tempo presente e também em outros períodos históricos que só podem ser acessados através da ciência e da arte), quanto também pelo fato de que a arte pode contribuir para uma formação mais ampla das potencialidades humanas, para além daquelas associadas aos interesses do mercado de trabalho.  

Não sendo uma especialista em análise fílmica, nem na produção cinematográfica, estive, ao longo do trabalho de formação/educação junto a um sindicato de trabalhadores[9], envolvida na produção audiovisual – inicialmente tratada como um registro das lutas e ações sindicais, mas logo incorporada como um importante elemento de reflexão, formação e mobilização de novos militantes. E quando, nos anos 2000, esse trabalho com a educação de trabalhadores assumiu caráter formal – de elevação de escolaridade – a dimensão audiovisual e da arte, no geral, constituíram importante instrumento, aliado ao eixo curricular central, que era o trabalho[10].

Tomado como princípio educativo, o trabalho aparece e é tratado, nas experiências supracitadas, em sua dupla dimensão – como criação e subordinação –, permitindo que todos os envolvidos (professores e alunos) se apropriem do conhecimento ali elaborado e também possam colocar em questionamento os processos de trabalho e as relações sociais que os sustentam. Assim, o adoecimento (físico e mental), o pouco tempo para o descanso, o lazer e a família, ou para o estudo, as práticas autoritárias por parte das chefias deixam de ser percebidos apenas no âmbito individual e passam a ser entendidos de maneira associada à forma como o capital organiza e controla os processos de trabalho. Por outro lado, a análise destes aspectos, também possibilita reconhecer e fortalecer um sentimento de pertencimento a determinado grupo social (a classe trabalhadora), com desdobramentos para uma prática coletiva um tanto mais organizada, que também acaba por fortalecer a ação sindical.

O que foi acumulado nessas experiências serviu-nos também para a proposição de uma disciplina (optativa) na graduação do curso de Serviço Social da UFF, intitulada Trabalho e questão social através do cinema[11]. Desde a ementa, até os objetivos e o desenvolvimento do programa da disciplina, o fio condutor é a ideia da centralidade do trabalho na vida social, dando destaque à história do trabalho (e das lutas de classe) sob o capitalismo. Nesse sentido, a escolha dos filmes procurou recuperar os vários modelos de organização do trabalho e as conflituosas relações entre capital-trabalho desde o século XIX até o século XXI, acompanhada de uma bibliografia que possibilite o aprofundamento dos aspectos levantados pela obra de arte e pela leitura que os/as discentes fazem das mesmas.

Do ponto de vista metodológico, em todas as aulas a turma assistia um filme, com indicação de leitura de textos que dialogassem com a história retratada no filme. Era sugerido também que dois ou três discentes iniciassem a análise, destacando os elementos estéticos e os eixos centrais da história, considerando as relações de trabalho e as ações das classes (ou dos sujeitos das classes) fundamentais.

Ao fim de cada módulo, os/as discentes escreviam uma Resenha do filme escolhido, como forma de sistematização das questões principais que, ao final da disciplina, os ajudariam a elaborar um pequeno filme (como avaliação final).

Nos três semestres em que a disciplina foi oferecida, o envolvimento e a produção apresentada pelos/as discentes foi muito rica e extrapolou a expectativa inicial docente, especialmente quanto às temáticas escolhidas para os filmes, assim como pelo interesse em se lançar numa atividade que, do ponto de vista técnico-operacional, era desconhecida da maioria deles/as. A procura por programas de edição, pela trilha sonora, o contato com possíveis entrevistados, tudo isso constituiu-se como um aprendizado que, no dizer dos/as discentes contribuiu também para um olhar de maior identificação e respeito com as experiências de trabalho e de vida das pessoas que compõem a classe trabalhadora.

Dois destes filmetes estão disponíveis a seguir, elaborados por discentes da primeira turma, em 2017 (2º semestre): Viela e Cicatrizes são os seus nomes.

Filme Cicatrizes
Direção, roteiro e edição: Daniele Sandes e Emanoella Moreira

Filme "Viela"
Criadores: Ana Clara Souza e João Marcoyves Carvalho


Estas experiências desenvolvidas também dialogaram com outras referências acadêmicas que têm o cinema como elemento central para a análise crítica acerca do trabalho e da sociedade capitalista global. São elas: Educação através da Imagem[12], programa de extensão desenvolvido pelo prof José Roberto Novaes, da UFRJ; e Tela Crítica[13], também um projeto de extensão, coordenado pelo prof Giovanni Alves, da UNESP. Essas duas iniciativas foram e ainda são importantes fontes de consulta e certamente, indicações das várias e ricas possibilidades que o cinema propõe ao campo da educação.

Atualmente, novas iniciativas vêm sendo adotadas por grupos de pesquisa cuja temática é o trabalho, reunindo uma produção fílmica (a maioria, documentários) bastante crítica sobre o trabalho. Vale a pena conferir.[14] Essa é uma contribuição que científico-acadêmica-artisticamente ainda tem relevância e é necessária para a construção de uma sociedade justa e igualitária, na qual os sentidos do trabalho sejam a liberdade e emancipação humana. 

 

Referências Bibliográficas:

ANTUNES, R. Os sentidos do Trabalho. Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2ª ed. SP: Boitempo Editorial, 2000.
____________. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 11ª ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2006.
____________. O Privilégio da Servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2ª ed. SP: Boitempo, 2020.
____________ (org). Uberização, Trabalho Digital e Indústria 4.0. SP: Boitempo, 2020. 

ANTUNES, R. e BRAGA, R. (orgs). Infoproletários: degradação real do trabalho virtual. SP: Boitempo, 2009.

BRAGA, R. A Política do Precariado: do populismo à hegemonia lulista. SP: Boitempo, 2012

CAMPOS, A. Sindicalismo no contexto de pandemia no Brasil: primeiras impressões. Disponível em: https://www.eco.unicamp.br/remir/index.php/sindicalismo/177-sindicalismo-no-contexto-de-pandemia-no-brasil-primeiras-impressoes.

ENGELS, F. Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem in: ANTUNES, R. (org). Dialética do Trabalho: escritos de Marx e Engels. SP: Expressão Popular, 2004.

FRIGOTTO, G. Prefácio. In: RODRIGUES, M.C.P. e AGUIAR, L. (orgs). Vivendo e Aprendendo: Trabalho e Educação como direito. RJ: Sinttel-Rio, 2008.

HARVEY, D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. SP: Boitempo, 2011.

HIRATA, H e ZARIFIAN, P. Trabalho (o conceito de) in: HIRATA, H. et al (orgs). Dicionário Crítico do Feminismo. SP: Ed. UNESP, 2009.

HOLZMANN, L. O trabalho no cinema (e uma socióloga na plateia). Porto Alegre: Tomo Editorial, 2012.

HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. 22ª ed. RJ: LTC, 2010.

LEITE, M. P. Gênero e trabalho no Brasil: os desafios da desigualdade. Revista Ciências do Trabalho, n.8. Agosto de 2017. Disponível em: https://rct.dieese.org.br/index.php/rct/issue/view/9

MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. SP: Boitempo Editorial, 2004 (Tradução e notas: Jesus Ranieri)

NETTO, J.P e BRAZ, M. Economia Política: uma introdução crítica. 5ª ed. SP: Cortez, 2009 (Biblioteca Básica/Serviço Social).

PESSANHA, E. e RODRIGUES, M.C.P. No olho do furacão: A ação sindical possível em tempos de covid-19 – o caso Sinttel-Rio. Revista Dilemas/UFRJ – Reflexões na pandemia, 2020. Disponível em: https://www.reflexpandemia.org/texto-12

RODRIGUES, M.C.P.; AGUIAR, L.M.B.; BARROS, R.N. Construindo caminhos na educação do trabalhador: a experiência do Programa Integração. RJ: Sinttel-Rio, 2007. 

RODRIGUES, M.C.P. e AGUIAR, L.M.B. (orgs). Vivendo e Aprendendo: Trabalho e Educação como direito. RJ: Sinttel-Rio, 2008.

SANTANA, M.A. e BRAGA, R.  #Breque dos Apps: enfrentando o uberismo. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2020/07/25/brequedosapps-enfrentando-o-uberismo/

   


[1] Reconhecemos que esta é uma denominação problemática, em primeiro lugar porque o “homem” aqui pode ser tomado como o sujeito universal. Tratado como tal, o masculino é naturalizado como o sujeito do trabalho, desconsiderando a divisão sexual do trabalho, ou que esse “homem” pressupõe a existência de homens e mulheres. Sobre essa questão ver Hirata e Zarifian (2009, p.251-256). Sobre as desigualdades sexuais e raciais no mercado de trabalho brasileiro, ver LEITE, M. P. (2017).

[2] Provavelmente escrito em 1876, este artigo foi idealizado inicialmente como introdução ao trabalho denominado Três formas fundamentais de escravização. Como o trabalho não foi publicado, Engels então publica este material com o título exposto acima, destacando o papel fundamental do trabalho na formação do “homem” e da sociedade humana. Foi publicado pela primeira vez em 1895, e em 1952 tem sua segunda edição, em alemão, pela então União Soviética.

[3] Sobre essa perspectiva idealista, que vai marcar o pensamento ocidental, Frigotto afirma que Marx foi um crítico importante: Invertendo o idealismo de Hegel, [Marx] supera a herança que entende a teoria como criação pura do pensamento e não o movimento do pensamento no seu terreno próprio de mediação na construção do conhecimento histórico. (...) E essa modificação se torna possível quando, através de suas análises encontra na classe trabalhadora, o sujeito histórico capaz de superar as atuais relações sociais. (FRIGOTTO, 2008, p.14)  

[4] No limite deste verbete não é possível tratar deste longuíssimo percurso histórico. Sobre essa temática, ver: NETTO, J.P e BRAZ, M. (2009); e HUBERMAN, L. (2010).

[5] Em outra passagem do mesmo texto, Marx explica essa condição de ser genérico, destacando o sentido do trabalho como atividade vital, como vida produtiva, que é genérica, engendradora de vida e, portanto, como atividade consciente e livre, que diferencia o homem dos animais: “O animal é imediatamente um com a sua atividade vital. Não se distingue dela. É ela. O homem faz da sua atividade vital mesma um objeto da sua vontade e da sua consciência. Ele tem atividade vital consciente. Esta não é uma determinidade (Bestimmtheit) com a qual ele coincide imediatamente. A atividade vital consciente distingue o homem imediatamente da atividade vital animal. Justamente, [e] só por isso, ele é um ser genérico. Ou ele somente é um ser consciente, isto é, a sua própria vida lhe é objeto, precisamente porque é um ser genérico.” (p. 84)

[6] Antunes, não unicamente, mas especialmente nas suas obras Os sentidos do Trabalho (2000) e Adeus ao Trabalho? (2006) questiona as teses que, a partir dos anos 1990, começam a tomar o campo acadêmico decretando a perda de centralidade do trabalho como categoria fundamental na análise da produção e reprodução da vida social. Sem desconsiderar o grau de precarização e fragmentação do trabalho na atualidade, que se intensifica sob o controle dos algoritmos (dando visibilidade ao que o autor denomina proletariado digital  do setor de serviços) associado a um ataque sistemático aos direitos sociais e do trabalho (vide a Reforma Trabalhista e a Lei da Terceirização, ambas de 2017; e a Reforma da Previdência, de 2019, no Brasil – para citar apenas algumas das medidas governamentais nos últimos anos), o autor analisa também as formas de luta da classe trabalhadora e aponta os desafios para a construção de uma sociedade que supere o capitalismo, e na qual seja possível uma vida cheia de sentido (dentro e fora do trabalho). Ver também, do mesmo autor: O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital (2020); Uberização, Trabalho Digital e Indústria 4.0. (2020).   

[7] Sobre este movimento e os desafios para a organização ver: SANTANA, M.A e BRAGA, R. (2020)

[8] Sobre as ações sindicais na pandemia, ver: CAMPOS, A. (2020); e PESSANHA, E.; RODRIGUES, M.C. (2020). 

[9] A entidade referida é o Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Rio de Janeiro (SINTTEL-Rio). Com esse sindicato, o trabalho com a produção audiovisual deu-se entre 1987-1997, período no qual foram produzidos Telejornais mensais, além de documentários sobre Condições de Trabalho; Memória da entidade (com entrevista com militantes e dirigentes antigos), As mulheres e o trabalho nas Telecomunicações, dentre outros. Todo o processo de feitura previa inúmeros debates com dirigentes e representantes de base e, após a produção, um cronograma de exibições e debates nos locais de trabalho, assembleias, congressos, seminários.

[10]E nestas duas experiências de educação dos trabalhadores, é possível destacar a utilização da ferramenta áudio-visual no percurso educativo. Sobre as mesmas, ver: RODRIGUES, M.C.P.; AGUIAR, L.M.B.; BARROS, R.N. (2007).  RODRIGUES, M.C.P. e AGUIAR, L.M.B. (2008).

[11] Sobre o Programa da disciplina e orientações para os trabalhos discentes, ver o link abaixo: https://drive.google.com/drive/folders/16QMuTSYj57ngSriGADA341q88FBzUkbq?usp=sharing

[12] Sobre a produção filmográfica de Beto Novaes, ver: https://www.youtube.com/c/filmografiabetonovaes

 

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