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É possível trabalhar o audiovisual
dentro dos temas propostos no Projeto
Político Pedagógico da escola. Cito como exemplo um dos trabalhos com o
audiovisual, em que o tema do bimestre era “Lugar de criança é na Escola”.
O audiovisual tem uma vantagem muito
grande quando é usado, pois além de promover todo um processo pedagógico de
construção do saber com o ato do “fazer” através das trocas entre os estudantes
e o professor, também pode ser usado como material por outras turmas, como
elemento de debate ou provocação.
Vale também lembrar que esses curtas
podem e devem ser apresentados nas sessões do Cineclube da escola para todas as
turmas promovendo dessa forma debates com os estudantes realizadores. Montando,
assim, uma biblioteca virtual da própria escola.
Isso contribui para a diminuição de
cartazes que além de ser um desperdício de papel, são geralmente descartados.
Ao contrário, o audiovisual pode ser armazenado em uma plataforma virtual e ser
acessado e consultado por toda a comunidade assim como outras escolas.
É sempre bom lembrar que o produto
final é o curta produzido através do protagonismo dos alunos, e o que temos que
dar maior importância é todo o processo de construção junto aos alunos até
chegar nele, que por muitas vezes tem falhas de continuidade, de som ou baixa
qualidade na captura da imagem. Para minimizar isso, auxiliamos e orientamos o
processo de manuseio e técnicas básicas do equipamento assim como um maior
aprofundamento do tema com pesquisa para que o mesmo tenha acesso a informações
fidedignas.
Dentro desse processo de construção
do tema trabalhado em sala de aula temos as etapas que constituem a seleção do
objeto motivador, que no caso pode ser uma imagem, uma poesia, música para
início de debate.
Também é fundamental que o professor
respeite a dinâmica que a atividade tem.
Fazer audiovisual no espaço escolar é
estar antes de tudo disposto a ouvir, sentir, receber, dar voz e construir
coletivamente a visão de mundo imediata que cerca os estudantes.
Citarei como exemplo de trabalho, fiz uma dinâmica em que utilizei apenas as falas da tirinha. Pedi que os alunos desenhassem as cenas que se encaixassem nas mesmas. Após isso, apresentei para os alunos a tirinha original.
Depois de debater sobre as falas extraídas da tirinha e imaginar como seriam as imagens que se encaixassem nelas, apresentei a tirinha original, na qual os alunos confrontaram as sugestões dadas pelos grupos.
A partir da tirinha original os alunos começaram a debater sobre as razões que levavam a termos crianças em situação de abandono nas ruas da cidade. Podemos observar que quase todos já haviam visto ou sabiam de algum caso de crianças que foram obrigadas, pelas circunstâncias, a deixarem as suas casas para morarem em situação de vulnerabilidade, na rua.
O próximo passo foi a utilização do
laboratório de informática para acessar pesquisas sobre o tema em sites
oficiais. Sempre é muito bom frisar a importância de se averiguar as
informações que são lidas, pois elas ficam expostas servindo de veículo de
informação para muitas pessoas.
A criatividade dos estudantes é
exercitada ainda mais em ter pela frente a tarefa de dar movimento à
imagem proposta. Elas se dedicam em
criar as cenas, escolher os atores e selecionar os papéis de cada um da
produção. Nesta atividade os alunos pensaram no figurino e até nos pés sujos
(eles sujaram os pés de propósito)
Podemos observar que os estudantes
foram muito além da imagem estática proposta, pois acrescentaram outras ações
para reforçar a invisibilidade da criança em situação de rua.
Os alunos acrescentaram cenas, como
por exemplo pessoas sorrindo fazendo uma selfie, um rapaz que tem a passagem
interrompida pela perna de uma das crianças e que se quer olha para de quem
seria a perna, simplesmente, pula a mesma, um pai com uma criança que enxerga
as outras crianças, mas o pai não dá atenção, puxando a filha e por fim um
empresário bem vestido e arrogante que quase pisa nas duas crianças...
Vale perceber que os alunos que
estavam registrando com a câmera se preocuparam
com o close nos pés bem calçados do empresário em contraste com os das
crianças abandonadas de chinelo, descalço e sujos.
Durante a gravação ocorreram dois
fatos inusitados: o primeiro foi que, ao passar um rapaz que fazia entrega de
quentinha, ele para oferecer uma refeição para os alunos, não percebendo que
era uma encenação. Logo em seguida foi a vez de uma senhora que queria levar os
dois atores-estudantes para pagar um lanche. Mesmo falando para ela que eles
não foram abandonados de verdade, ela insistia e mesmo mostrando a câmera, o
tripé e todos os alunos em volta com equipamentos ela continuava a insistir.
Com muito custo ela viu que era uma encenação. Fizemos uma foto com ela,
agradecemos o cuidado e o carinho.
Naquele momento percebemos que os
invisíveis eram os que registravam a cena, e não as crianças. Depois desses
acontecimentos e de gravarmos tudo, voltamos para a sala de aula.
Uma das meninas questionou que a
tirinha não mostrava a verdade, pois eles não ficaram invisíveis, outro
estudante levantou a questão que foram duas pessoas que durante as quatro horas
se manifestaram e que ele percebeu que passaram muito mais do que duas pessoas
que não se importaram com a situação. Por fim, dois alunos sugeriram gravar uma
nova história, agora incluindo os fatos ocorridos.
Os estudantes a partir desse
exercício puderam, na prática, demonstrar que a imagem divulgada é uma escolha
de quem a faz, pois não foram incluídas as cenas onde as duas pessoas
interferiram no processo de gravação. Essas imagens foram descartadas para dar
continuidade ao que já havia sido acordado entre o grupo.
O vídeo em questão não tinha sido
postado em nenhuma plataforma, sendo recuperado e lembrado por estar
participando do grupo de pesquisa do Professor Josias Pereira sobre a produção
de vídeo estudantil de professores da Educação Básica, e da pesquisa do
professor Gregório Albuquerque para o Dicionário de Verbetes.
Os invisíveis
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