última atualização 09-01-2023

Dicionário da Educação Audiovisual - TIRINHA

 

Lídia Santos Arruda
Professora da Escola Municipal Grécia (4ª CRE)
lidiaperdida@gmail.com



    É possível trabalhar o audiovisual dentro dos temas  propostos no Projeto Político Pedagógico da escola. Cito como exemplo um dos trabalhos com o audiovisual, em que o tema do bimestre era “Lugar de criança é na Escola”.

    O audiovisual tem uma vantagem muito grande quando é usado, pois além de promover todo um processo pedagógico de construção do saber com o ato do “fazer” através das trocas entre os estudantes e o professor, também pode ser usado como material por outras turmas, como elemento de debate ou provocação.

    Vale também lembrar que esses curtas podem e devem ser apresentados nas sessões do Cineclube da escola para todas as turmas promovendo dessa forma debates com os estudantes realizadores. Montando, assim, uma biblioteca virtual da própria escola.

    Isso contribui para a diminuição de cartazes que além de ser um desperdício de papel, são geralmente descartados. Ao contrário, o audiovisual pode ser armazenado em uma plataforma virtual e ser acessado e consultado por toda a comunidade assim como outras escolas.

    É sempre bom lembrar que o produto final é o curta produzido através do protagonismo dos alunos, e o que temos que dar maior importância é todo o processo de construção junto aos alunos até chegar nele, que por muitas vezes tem falhas de continuidade, de som ou baixa qualidade na captura da imagem. Para minimizar isso, auxiliamos e orientamos o processo de manuseio e técnicas básicas do equipamento assim como um maior aprofundamento do tema com pesquisa para que o mesmo tenha acesso a informações fidedignas.

    Dentro desse processo de construção do tema trabalhado em sala de aula temos as etapas que constituem a seleção do objeto motivador, que no caso pode ser uma imagem, uma poesia, música para início de debate.

    Também é fundamental que o professor respeite a dinâmica que a atividade tem.

    Fazer audiovisual no espaço escolar é estar antes de tudo disposto a ouvir, sentir, receber, dar voz e construir coletivamente a visão de mundo imediata que cerca os estudantes.

    Citarei como exemplo de trabalho, fiz uma dinâmica em que utilizei apenas as falas da tirinha. Pedi que os alunos desenhassem as cenas que se encaixassem nas mesmas. Após isso, apresentei para os alunos a tirinha original.

    Depois de debater sobre as falas extraídas da tirinha e imaginar como seriam as imagens que se encaixassem nelas, apresentei a tirinha original, na qual os alunos confrontaram as sugestões dadas pelos grupos.

por Ricardo Tokumoto www.ryotiras.com

    A partir da tirinha original os alunos começaram a debater sobre as razões que levavam a termos crianças em situação de abandono nas ruas da cidade. Podemos observar que quase todos já haviam visto ou sabiam de algum caso de crianças que  foram obrigadas, pelas circunstâncias, a deixarem as suas casas para morarem em situação de vulnerabilidade, na rua.

    O próximo passo foi a utilização do laboratório de informática para acessar pesquisas sobre o tema em sites oficiais. Sempre é muito bom frisar a importância de se averiguar as informações que são lidas, pois elas ficam expostas servindo de veículo de informação para muitas pessoas.

    A criatividade dos estudantes é exercitada ainda mais em ter pela frente a tarefa de dar movimento à imagem  proposta. Elas se dedicam em criar as cenas, escolher os atores e selecionar os papéis de cada um da produção. Nesta atividade os alunos pensaram no figurino e até nos pés sujos (eles sujaram os pés de propósito)

  Podemos observar que os estudantes foram muito além da imagem estática proposta, pois acrescentaram outras ações para reforçar a invisibilidade da criança em situação de rua.

    Os alunos acrescentaram cenas, como por exemplo pessoas sorrindo fazendo uma selfie, um rapaz que tem a passagem interrompida pela perna de uma das crianças e que se quer olha para de quem seria a perna, simplesmente, pula a mesma, um pai com uma criança que enxerga as outras crianças, mas o pai não dá atenção, puxando a filha e por fim um empresário bem vestido e arrogante que quase pisa nas duas crianças...

    Vale perceber que os alunos que estavam registrando com a câmera se preocuparam  com o close nos pés bem calçados do empresário em contraste com os das crianças abandonadas de chinelo, descalço e sujos.

    Durante a gravação ocorreram dois fatos inusitados: o primeiro foi que, ao passar um rapaz que fazia entrega de quentinha, ele para oferecer uma refeição para os alunos, não percebendo que era uma encenação. Logo em seguida foi a vez de uma senhora que queria levar os dois atores-estudantes para pagar um lanche. Mesmo falando para ela que eles não foram abandonados de verdade, ela insistia e mesmo mostrando a câmera, o tripé e todos os alunos em volta com equipamentos ela continuava a insistir. Com muito custo ela viu que era uma encenação. Fizemos uma foto com ela, agradecemos o cuidado e o carinho.

    Naquele momento percebemos que os invisíveis eram os que registravam a cena, e não as crianças. Depois desses acontecimentos e de gravarmos tudo, voltamos para a sala de aula.

    Uma das meninas questionou que a tirinha não mostrava a verdade, pois eles não ficaram invisíveis, outro estudante levantou a questão que foram duas pessoas que durante as quatro horas se manifestaram e que ele percebeu que passaram muito mais do que duas pessoas que não se importaram com a situação. Por fim, dois alunos sugeriram gravar uma nova história, agora incluindo os fatos ocorridos.

    Os estudantes a partir desse exercício puderam, na prática, demonstrar que a imagem divulgada é uma escolha de quem a faz, pois não foram incluídas as cenas onde as duas pessoas interferiram no processo de gravação. Essas imagens foram descartadas para dar continuidade ao que já havia sido acordado entre o grupo.

    O vídeo em questão não tinha sido postado em nenhuma plataforma, sendo recuperado e lembrado por estar participando do grupo de pesquisa do Professor Josias Pereira sobre a produção de vídeo estudantil de professores da Educação Básica, e da pesquisa do professor Gregório Albuquerque para o Dicionário de Verbetes.

Os invisíveis






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