última atualização 09-01-2023

Dicionário da Educação Audiovisual - TALLER (Oficina)

Nuria Lamfir
nuria.lamfir@gmail.com
Directora de la Primera Escuela de Cine Infantil y Juvenil Taller de Cine “El Mate”
www.tallerelmate.com.ar



"[…] educar não é ensinar o homem a saber, mas a fazer."

Florence Nightingale


A palavra "Taller" tem origem no francês "atelier" e refere-se a um lugar onde se trabalha principalmente com as mãos.

A Real Academia Espanhola (RAE) menciona três acepções para esta palavra:

 

1.m. Local onde se trabalha uma obra manual.

2.m. Escola ou seminário de ciências ou artes.

3.m. Conjunto de colaboradores de um Mestre.

 

 

O conceito de Taller define-se como o espaço para o desenvolvimento de atividades artesanais, artísticas, sociais, científicas e industriais. No uso cotidiano, é o lugar onde algo é feito, construído ou reparado. Assim, falamos do atelier de um pintor ou artesão, oficina mecânica, carpintaria, entre outros.

Historicamente, o atelier evoluiu em diferentes e diversas formas. Se voltarmos à Antiga Oriente, no Egito, os ateliers eram lugares onde os artistas trabalhavam para seus patronos, sacerdotes ou príncipes. A pessoa do artista quase desaparecia completamente por trás de sua obra. Os grandes ateliers anexos aos palácios reais e templos também serviam como escolas para a formação de novos artistas (HAUSER, 1994).

Nos ateliers sírios, foram elaborados os melhores vidros e cerâmicas. Seus produtos finais eram resultado do trabalho coletivo, absolutamente anônimo (PEREZ DUQUE, 2008).

Na Grécia, o atelier foi revalorizado através da imagem do artesão, que conferia ao local a presença do artista criador. Além de produzir beleza, o artista tinha o privilégio de comunicação com os deuses, reafirmando o valor da época do trabalho individual sobre o coletivo.

Durante a Idade Média, o trabalho em grupos marcou o desenvolvimento das cidades. As lojas eram comunidades de artistas e artesãos empregados na construção de catedrais, sob a direção artística e administrativa de pessoas comissionadas pela entidade que realizava a obra. As lojas eram organizações de trabalhadores assalariados com uma hierarquia. A produção artística tinha um caráter coletivo.

O tamanho dos talleres era muito variável. A maioria era atendida por um artesão sozinho ou ajudada pelos membros de sua família que fabricavam produtos simples e baratos.

Por outro lado, a empresa artesanal, cuja produção não estava exclusivamente destinada a uma clientela local, era dirigida por uma espécie de "mestre de ofício" com competências reconhecidas e com meios financeiros importantes. Podia agrupar cerca de trinta trabalhadores (muitas vezes de origem servil) com tarefas diferenciadas. Os produtos resultantes desses talleres eram frequentemente refinados ou luxuosos (vestidos, cerâmica pintada, etc.) e podiam alcançar preços muito elevados de acordo com a reputação do mestre.

Conforme descreve Hauser [4], durante a Idade Média, o trabalho em grupos marcou o ritmo no desenvolvimento das cidades. As lojas eram, nos séculos XII e XIII, comunidades de artistas e artesãos empregados na construção de uma catedral, sob a direção artística e administrativa de pessoas comissionadas pela entidade que construía a obra. As lojas eram uma organização laboral hierárquica de assalariados. A produção artística tinha um caráter coletivo.

Posteriormente, no decorrer do século XIV, surgiram as guildas que propunham uma associação igualitária de empresários independentes.

Seguindo o curso da história, durante o início do Renascimento, o atelier artístico ainda era dominado pelo espírito comunal dos antigos construtores e gremios. A educação dos artistas ocorria nos ateliers, não nas escolas, de forma prática, não teórica. Os ateliers pertenciam a um Mestre e os aprendizes entravam ainda crianças e permaneciam muitos anos com ele. Até o final do século XV, o processo de criação artística ocorria completamente de forma coletiva.

A emancipação da arte em relação ao espírito artesanal começou com a mudança do antigo sistema de ensino e a eliminação do monopólio de ensino dos gremios. A educação das novas gerações de artistas passou dos ateliers para as escolas e, em parte, o ensino prático teve que ceder espaço ao teórico (HAUSER, 1994).

Durante o século XVIII, com o surgimento das academias reais, os ateliers perderam importância, considerando que eles tinham uma relação direta ou de serviço com as cortes reais, destacando, assim, o nome e poder das monarquias (PEREZ DUQUE, 2008). As academias foram um novo espaço de reunião e associação para o intercâmbio sócio-cultural e intelectual.

Posteriormente, durante o período de desenvolvimento industrial, o termo e a noção de atelier caíram em desuso, devido à mudança radical que a humanidade experimentou. A máquina e o início do desenvolvimento das novas técnicas implicaram um local de trabalho em grande escala, o que mudou notavelmente os cenários de produção. Os ateliers artesanais começaram a ser substituídos por fábricas, o que representou uma mudança fundamental na organização do trabalho.

No século XX, a terminologia de atelier foi substituída por fábrica, estúdio ou emporio para denominar os locais de atividades coletivas. Esse conceito teve sua evolução natural nas escolas e ateliers de belas artes e artes aplicadas, chegando a gerar o conceito "Arts and Crafts", cunhado por William Morris como "atelier de design", que se dedicou à recuperação das artes e ofícios medievais, rejeitando as formas emergentes de produção em massa.

Como podemos observar en este breve repaso histórico, hay três questões que caracterizaram os talleres desde seu nascimento:

·                    o aspecto grupal, às vezes respondendo a uma organização hierárquica, outras vezes com um caráter mais horizontal;

·                    o aspecto produtivo, sendo o espaço onde algo é realizado;

·                    o aspecto formativo, aprende-se através da prática, do fazer.

Há vários anos, o conceito de taller tem sido ampliado para a educação, referindo-se a uma certa metodologia de ensino que combina teoria e prática e envolve a ideia de ser "um lugar onde várias pessoas trabalham cooperativamente, onde se aprende fazendo junto com os outros" (BRAVO, 1993).

Existem talleres de formação ou aperfeiçoamento em diversas disciplinas artísticas, técnicas, científicas, ou pode-se também falar de taller no âmbito da educação formal como uma forma particular de organizar a sala de aula, a forma de trabalhar e a dinâmica dos vínculos que se geram nela.

Como afirmam Pasel e Asborno em seu livro "Aula-taller" (1993), esta metodologia de trabalho é fundamentada em uma aprendizagem ativa, baseada no fazer. O ensino tradicional desassocia a teoria da prática, ao contrário do aula-taller, que busca integrá-las através dos afetos, da reflexão e da ação.

Em uma aula ou curso, dentro de um contexto de educação formal, o docente é o ator principal, é quem expõe os conteúdos programáticos e conduz a dinâmica do encontro, sendo a participação do estudante muito pobre e passiva. Por outro lado, em um taller, o protagonismo do docente passa para segundo plano, e sua função é mais de supervisão e coordenação. Os alunos têm uma atitude proativa, desenvolvem a maior parte das atividades para alcançar um objetivo determinado, um produto tangível. É fundamental a constante troca entre todos os participantes. Em essência, o taller "é organizado com uma abordagem interdisciplinar e globalizadora, onde o professor não ensina no sentido tradicional, mas é um assistente técnico que ajuda a aprender. Os alunos aprendem fazendo, e suas respostas ou soluções podem ser, em alguns casos, mais válidas do que as do próprio professor." Pode ser organizado com o trabalho individualizado de alunos, em duplas ou em pequenos grupos, desde que o trabalho realizado transcenda o simples conhecimento, tornando-se assim uma aprendizagem integral que envolva a prática.

Além dos conhecimentos adquiridos, os talleres são benéficos em nível social, pois obrigam seus integrantes a trabalhar perto de outras pessoas; mesmo quando as tarefas são individuais, a oportunidade de compartilhar atividades com os outros é altamente enriquecedora. Permite aprender com os outros, tanto com suas habilidades e pontos fortes como com seus erros; além disso, ao nos situarmos em um contexto que nos representa, nos sentimos mais incentivados e inspirados. Os talleres costumam ser um ponto de encontro entre pessoas que compartilham um interesse comum, que escolhem participar desse espaço particular por um interesse genuíno. A interação com um grupo que persegue um mesmo objetivo produz uma sensação de grande satisfação e pertencimento.

María Teresa González Cuberes (1989) expressa: "Me refiro ao taller como tempo - espaço para a vivência, a reflexão e a conceptualização; como síntese do pensar, o sentir e o fazer. Como lugar para a participação e a aprendizagem. Gosto da expressão que explica o taller como lugar de manufactura e mentefactura. No taller, através do interjogo dos participantes com a tarefa, convergem pensamento, sentimento e ação. O taller, em síntese, pode se tornar o lugar do vínculo, da participação, da comunicação e, portanto, lugar de produção social de objetos, fatos e conhecimentos".

Segundo Margarita Pérez Duque (2008), tanto em seus primórdios quanto na atualidade, ao Taller é reconhecido como o espaço da dúvida, da pergunta, do assombro, do erro, da retificação, da crítica, da aprovação; sempre direcionando-se à construção de um conhecimento oportuno e com alto grau de significação. Na experiência dentro de um taller, podem ser apresentados três momentos: sondagem de preconceitos e saberes prévios dos alunos, introdução ao tema por parte do/a docente e, por último, a execução do trabalho a realizar.

Os talleres podem ser organizados por níveis de conhecimento e podem ter diferentes durações, podendo ser realizados em alguns encontros, um quadrimestre ou podem ser anuais. Como já mencionamos, existem talleres de formação ou aperfeiçoamento em diversas disciplinas artísticas. O Taller Audiovisual é aquele espaço de trabalho orientado para a criação de conteúdos audiovisuais.

Pode ter um caráter introdutório, destinado a quem não possui nenhum conhecimento prévio. Então, através de diferentes encontros, são realizadas atividades que permitem se familiarizar com as ferramentas e equipamentos de trabalho (câmeras, tripés, gravadores de som etc.), ao mesmo tempo em que se conhece a linguagem cinematográfica e as diferentes etapas envolvidas na realização de um filme. Um esquema muito sucinto do percurso seria o seguinte:

● Pré-produção: desenvolvimento de uma ideia, escrita de um roteiro, realização do storyboard ou roteiro visual, elaboração de um plano de filmagem. Preparação de locações, cenografia, figurino e tudo o que for necessário para poder começar a filmagem.

● Produção: filmagem.

● Pós-produção: visualização, organização e seleção de todo o material filmado. Edição.

Geralmente, a modalidade de trabalho é muito dinâmica, experimenta-se em diferentes especialidades e assumem-se papéis, alternando-se com os demais participantes para ter uma visão geral de todos os requisitos necessários para levar a cabo um produto audiovisual. O cinema, como uma atividade grupal por excelência, implica a distribuição de papéis, tarefas e responsabilidades.

Por outro lado, há Talleres Audiovisuales destinados a quem já possui conhecimentos prévios e deseja aprofundar-se em algum aspecto particular da realização ou necessita de um espaço que lhe permita levar adiante um projeto. Dentro desta categoria, podemos encontrar, por exemplo: talleres de desenvolvimento de roteiro, de análise de filmes, de atuação, de fotografia, de maquiagem e efeitos especiais, talleres especializados em técnicas de animação ou talleres que permitem conhecer diferentes programas de computação utilizados para editar imagem e som.

Muitas pessoas, cujo primeiro contato com a arte é através de um taller, anos depois se voltam inteiramente ao estudo de sua vocação, adquirindo uma formação profissional que lhes permite trabalhar e viver disso.

A partir de minha experiência pessoal, trabalhando há vários anos em um taller de cinema para crianças e adolescentes, posso afirmar que é muito enriquecedor se a coordenação do espaço é feita de forma conjunta, seja por um casal ou por uma equipe maior de docentes. A experiência se torna mais interessante e rica se as estratégias de trabalho e propostas de atividades são feitas através da troca de ideias e opiniões de várias pessoas. Coordenar um taller demanda uma capacidade de entrega e compromisso muito grandes, por isso é melhor se o esforço é compartilhado. Requer elaborar um planejamento aberto e flexível, que permita adaptá-lo e modificá-lo de acordo com o grupo que é recebido e as individualidades que o compõem. Requer uma ampla sensibilidade para lidar com o conjunto de participantes e a qualidade dos vínculos que se estabelecem entre eles. É todo um desafio gerar um clima de trabalho e aprendizado onde todos se sintam confortáveis e com plena confiança para expressar ideias, opiniões e emoções. É uma grande responsabilidade gerar um espaço que permita desenvolver e potencializar a criatividade e as capacidades singulares de cada indivíduo, que permita afirmar a personalidade através da autoexpressão, ao mesmo tempo que aprofunda a compreensão, empatia e solidariedade com os outros. A educação artística permite que o ser humano se forme de forma mais integral e se sensibilize com seu entorno. O processo de ensino-aprendizagem que ocorre em um taller tende a gerar estudantes curiosos, reflexivos e autônomos que exploram e analisam criticamente o mundo ao seu redor. Estudantes que questionam, que exploram possibilidades, capazes de transformar realidades. Como afirma Paulo Freire, "A educação não muda o mundo; ela muda as pessoas que vão mudar o mundo".

 

 

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[1] HAUSER, Arnold. Historia social de la literatura y del arte. Tomo 1. 23.ed. Colombia: Colección Labor, 1994. p.46-53.

[2] Pérez Duque, Margarita María. El taller: espacio de producción, lugar de construcción del conocimiento. Actas de Diseño N°5. Año III, Vol. 5. Buenos Aires, Argentina.  Julio 2008.

[3]“Artesanía de la antigua Grecia.” Wikipedia, La enciclopedia libre. 15 abril 2021. <https://es.wikipedia.org/wiki/Artesan%C3%ADa_de_la_Antigua_Grecia>.

[4] HAUSER, Arnold. Historia social de la literatura y del arte. Tomo 1. 23.ed. Colombia: Colección Labor, 1994. p.305-315.

[5] HAUSER, Arnold. Historia social de la literatura y del arte. Tomo 1. 23.ed. Colombia: Colección Labor, 1994. p.389-425.

[6] BRAVO, Néstor. El concepto del taller. <http://acreditacion.unillanos.edu.co/CapDocentes/contenidos/NESTOR%20BRAVO/Segunda%20Sesion/Concepto_taller.pdf>

[7] PASEL S., ASBORNO S. (1993). Aula taller. Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina: Aique Grupo Editor.

[8] “Taller educativo.” Wikipedia, La enciclopedia libre. 25 abril 2021. <https://es.wikipedia.org/wiki/Taller_educativo>.

[9] GONZÁLEZ CUBERES, María Teresa. (1989) El taller de los talleres, Aportes al desarrollo de talleres educativos. Buenos Aires, Argentina: Editorial Estrada.


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