Nuria Lamfir
nuria.lamfir@gmail.com
Directora de la Primera Escuela de Cine Infantil y Juvenil Taller de Cine “El Mate”
www.tallerelmate.com.ar
"[…] educar não é
ensinar o homem a saber, mas a fazer."
Florence Nightingale
A
palavra "Taller" tem origem no francês "atelier" e
refere-se a um lugar onde se trabalha principalmente com as mãos.
A Real Academia Espanhola (RAE) menciona três acepções para esta palavra:
1.m.
Local onde se trabalha uma obra manual.
2.m.
Escola ou seminário de ciências ou artes.
3.m.
Conjunto de colaboradores de um Mestre.
O conceito de Taller define-se como o espaço para o
desenvolvimento de atividades artesanais, artísticas, sociais, científicas e
industriais. No uso cotidiano, é o lugar onde algo é feito, construído ou
reparado. Assim, falamos do atelier de um pintor ou artesão, oficina mecânica,
carpintaria, entre outros.
Historicamente, o atelier evoluiu em diferentes e
diversas formas. Se voltarmos à Antiga Oriente, no Egito, os ateliers eram
lugares onde os artistas trabalhavam para seus patronos, sacerdotes ou
príncipes. A pessoa do artista quase desaparecia completamente por trás de sua
obra. Os grandes ateliers anexos aos palácios reais e templos também serviam
como escolas para a formação de novos artistas (HAUSER, 1994).
Nos ateliers sírios, foram elaborados os melhores
vidros e cerâmicas. Seus produtos finais eram resultado do trabalho coletivo,
absolutamente anônimo (PEREZ DUQUE, 2008).
Na Grécia, o atelier foi revalorizado através da
imagem do artesão, que conferia ao local a presença do artista criador. Além de
produzir beleza, o artista tinha o privilégio de comunicação com os deuses,
reafirmando o valor da época do trabalho individual sobre o coletivo.
Durante a Idade Média, o trabalho em grupos marcou o desenvolvimento
das cidades. As lojas eram comunidades de artistas e artesãos empregados na
construção de catedrais, sob a direção artística e administrativa de pessoas
comissionadas pela entidade que realizava a obra. As lojas eram organizações de
trabalhadores assalariados com uma hierarquia. A produção artística tinha um
caráter coletivo.
O tamanho dos talleres era muito variável. A maioria
era atendida por um artesão sozinho ou ajudada pelos membros de sua família que
fabricavam produtos simples e baratos.
Por outro lado, a empresa artesanal, cuja produção não
estava exclusivamente destinada a uma clientela local, era dirigida por uma
espécie de "mestre de ofício" com competências reconhecidas e com
meios financeiros importantes. Podia agrupar cerca de trinta trabalhadores
(muitas vezes de origem servil) com tarefas diferenciadas. Os produtos
resultantes desses talleres eram frequentemente refinados ou luxuosos
(vestidos, cerâmica pintada, etc.) e podiam alcançar preços muito elevados de
acordo com a reputação do mestre.
Conforme descreve Hauser [4], durante a Idade Média, o
trabalho em grupos marcou o ritmo no desenvolvimento das cidades. As lojas
eram, nos séculos XII e XIII, comunidades de artistas e artesãos empregados na
construção de uma catedral, sob a direção artística e administrativa de pessoas
comissionadas pela entidade que construía a obra. As lojas eram uma organização
laboral hierárquica de assalariados. A produção artística tinha um caráter
coletivo.
Posteriormente, no decorrer do século XIV, surgiram as
guildas que propunham uma associação igualitária de empresários independentes.
Seguindo o curso da história, durante o início do
Renascimento, o atelier artístico ainda era dominado pelo espírito comunal dos
antigos construtores e gremios. A educação dos artistas ocorria nos ateliers,
não nas escolas, de forma prática, não teórica. Os ateliers pertenciam a um
Mestre e os aprendizes entravam ainda crianças e permaneciam muitos anos com
ele. Até o final do século XV, o processo de criação artística ocorria
completamente de forma coletiva.
A emancipação da arte em relação ao espírito artesanal
começou com a mudança do antigo sistema de ensino e a eliminação do monopólio
de ensino dos gremios. A educação das novas gerações de artistas passou dos
ateliers para as escolas e, em parte, o ensino prático teve que ceder espaço ao
teórico (HAUSER, 1994).
Durante o século XVIII, com o surgimento das academias
reais, os ateliers perderam importância, considerando que eles tinham uma
relação direta ou de serviço com as cortes reais, destacando, assim, o nome e
poder das monarquias (PEREZ DUQUE, 2008). As academias foram um novo espaço de
reunião e associação para o intercâmbio sócio-cultural e intelectual.
Posteriormente, durante o período de desenvolvimento
industrial, o termo e a noção de atelier caíram em desuso, devido à mudança
radical que a humanidade experimentou. A máquina e o início do desenvolvimento
das novas técnicas implicaram um local de trabalho em grande escala, o que
mudou notavelmente os cenários de produção. Os ateliers artesanais começaram a
ser substituídos por fábricas, o que representou uma mudança fundamental na
organização do trabalho.
No século XX, a terminologia de atelier foi
substituída por fábrica, estúdio ou emporio para denominar os locais de
atividades coletivas. Esse conceito teve sua evolução natural nas escolas e
ateliers de belas artes e artes aplicadas, chegando a gerar o conceito
"Arts and Crafts", cunhado por William Morris como "atelier de
design", que se dedicou à recuperação das artes e ofícios medievais,
rejeitando as formas emergentes de produção em massa.
Como podemos observar en este breve repaso histórico,
hay três questões que caracterizaram os talleres desde seu nascimento:
·
o aspecto grupal,
às vezes respondendo a uma organização hierárquica, outras vezes com um caráter
mais horizontal;
·
o aspecto
produtivo, sendo o espaço onde algo é realizado;
·
o aspecto
formativo, aprende-se através da prática, do fazer.
Há vários anos, o conceito de taller tem sido ampliado
para a educação, referindo-se a uma certa metodologia de ensino que combina
teoria e prática e envolve a ideia de ser "um lugar onde várias pessoas
trabalham cooperativamente, onde se aprende fazendo junto com os outros"
(BRAVO, 1993).
Existem talleres de formação ou aperfeiçoamento em
diversas disciplinas artísticas, técnicas, científicas, ou pode-se também falar
de taller no âmbito da educação formal como uma forma particular de organizar a
sala de aula, a forma de trabalhar e a dinâmica dos vínculos que se geram nela.
Como afirmam Pasel e Asborno em seu livro
"Aula-taller" (1993), esta metodologia de trabalho é fundamentada em
uma aprendizagem ativa, baseada no fazer. O ensino tradicional desassocia a
teoria da prática, ao contrário do aula-taller, que busca integrá-las através
dos afetos, da reflexão e da ação.
Em uma aula ou curso, dentro de um contexto de
educação formal, o docente é o ator principal, é quem expõe os conteúdos programáticos
e conduz a dinâmica do encontro, sendo a participação do estudante muito pobre
e passiva. Por outro lado, em um taller, o protagonismo do docente passa para
segundo plano, e sua função é mais de supervisão e coordenação. Os alunos têm
uma atitude proativa, desenvolvem a maior parte das atividades para alcançar um
objetivo determinado, um produto tangível. É fundamental a constante troca
entre todos os participantes. Em essência, o taller "é organizado com uma
abordagem interdisciplinar e globalizadora, onde o professor não ensina no
sentido tradicional, mas é um assistente técnico que ajuda a aprender. Os
alunos aprendem fazendo, e suas respostas ou soluções podem ser, em alguns
casos, mais válidas do que as do próprio professor." Pode ser organizado
com o trabalho individualizado de alunos, em duplas ou em pequenos grupos,
desde que o trabalho realizado transcenda o simples conhecimento, tornando-se
assim uma aprendizagem integral que envolva a prática.
Além dos conhecimentos adquiridos, os talleres são
benéficos em nível social, pois obrigam seus integrantes a trabalhar perto de
outras pessoas; mesmo quando as tarefas são individuais, a oportunidade de
compartilhar atividades com os outros é altamente enriquecedora. Permite
aprender com os outros, tanto com suas habilidades e pontos fortes como com
seus erros; além disso, ao nos situarmos em um contexto que nos representa, nos
sentimos mais incentivados e inspirados. Os talleres costumam ser um ponto de
encontro entre pessoas que compartilham um interesse comum, que escolhem
participar desse espaço particular por um interesse genuíno. A interação com um
grupo que persegue um mesmo objetivo produz uma sensação de grande satisfação e
pertencimento.
María Teresa González Cuberes (1989) expressa:
"Me refiro ao taller como tempo - espaço para a vivência, a reflexão e a
conceptualização; como síntese do pensar, o sentir e o fazer. Como lugar para a
participação e a aprendizagem. Gosto da expressão que explica o taller como
lugar de manufactura e mentefactura. No taller, através do interjogo dos
participantes com a tarefa, convergem pensamento, sentimento e ação. O taller,
em síntese, pode se tornar o lugar do vínculo, da participação, da comunicação
e, portanto, lugar de produção social de objetos, fatos e conhecimentos".
Segundo Margarita Pérez Duque (2008), tanto em seus
primórdios quanto na atualidade, ao Taller é reconhecido como o espaço da
dúvida, da pergunta, do assombro, do erro, da retificação, da crítica, da
aprovação; sempre direcionando-se à construção de um conhecimento oportuno e
com alto grau de significação. Na experiência dentro de um taller, podem ser
apresentados três momentos: sondagem de preconceitos e saberes prévios dos
alunos, introdução ao tema por parte do/a docente e, por último, a execução do
trabalho a realizar.
Os talleres podem ser organizados por níveis de
conhecimento e podem ter diferentes durações, podendo ser realizados em alguns
encontros, um quadrimestre ou podem ser anuais. Como já mencionamos, existem
talleres de formação ou aperfeiçoamento em diversas disciplinas artísticas. O Taller
Audiovisual é aquele espaço de trabalho orientado para a criação de
conteúdos audiovisuais.
Pode ter um caráter introdutório, destinado a quem não
possui nenhum conhecimento prévio. Então, através de diferentes encontros, são
realizadas atividades que permitem se familiarizar com as ferramentas e
equipamentos de trabalho (câmeras, tripés, gravadores de som etc.), ao mesmo
tempo em que se conhece a linguagem cinematográfica e as diferentes etapas
envolvidas na realização de um filme. Um esquema muito sucinto do percurso
seria o seguinte:
● Pré-produção: desenvolvimento de uma ideia, escrita
de um roteiro, realização do storyboard ou roteiro visual, elaboração de um
plano de filmagem. Preparação de locações, cenografia, figurino e tudo o que
for necessário para poder começar a filmagem.
● Produção: filmagem.
● Pós-produção: visualização, organização e seleção de
todo o material filmado. Edição.
Geralmente, a modalidade de trabalho é muito dinâmica,
experimenta-se em diferentes especialidades e assumem-se papéis, alternando-se
com os demais participantes para ter uma visão geral de todos os requisitos
necessários para levar a cabo um produto audiovisual. O cinema, como uma
atividade grupal por excelência, implica a distribuição de papéis, tarefas e
responsabilidades.
Por outro lado, há Talleres Audiovisuales destinados a
quem já possui conhecimentos prévios e deseja aprofundar-se em algum aspecto
particular da realização ou necessita de um espaço que lhe permita levar
adiante um projeto. Dentro desta categoria, podemos encontrar, por exemplo:
talleres de desenvolvimento de roteiro, de análise de filmes, de atuação, de
fotografia, de maquiagem e efeitos especiais, talleres especializados em
técnicas de animação ou talleres que permitem conhecer diferentes programas de
computação utilizados para editar imagem e som.
Muitas pessoas, cujo primeiro contato com a arte é
através de um taller, anos depois se voltam inteiramente ao estudo de sua
vocação, adquirindo uma formação profissional que lhes permite trabalhar e
viver disso.
A partir de minha experiência pessoal, trabalhando há
vários anos em um taller de cinema para crianças e adolescentes, posso afirmar
que é muito enriquecedor se a coordenação do espaço é feita de forma conjunta,
seja por um casal ou por uma equipe maior de docentes. A experiência se torna
mais interessante e rica se as estratégias de trabalho e propostas de
atividades são feitas através da troca de ideias e opiniões de várias pessoas.
Coordenar um taller demanda uma capacidade de entrega e compromisso muito
grandes, por isso é melhor se o esforço é compartilhado. Requer elaborar um
planejamento aberto e flexível, que permita adaptá-lo e modificá-lo de acordo
com o grupo que é recebido e as individualidades que o compõem. Requer uma
ampla sensibilidade para lidar com o conjunto de participantes e a qualidade
dos vínculos que se estabelecem entre eles. É todo um desafio gerar um clima de
trabalho e aprendizado onde todos se sintam confortáveis e com plena confiança
para expressar ideias, opiniões e emoções. É uma grande responsabilidade gerar
um espaço que permita desenvolver e potencializar a criatividade e as
capacidades singulares de cada indivíduo, que permita afirmar a personalidade através
da autoexpressão, ao mesmo tempo que aprofunda a compreensão, empatia e
solidariedade com os outros. A educação artística permite que o ser humano se
forme de forma mais integral e se sensibilize com seu entorno. O processo de
ensino-aprendizagem que ocorre em um taller tende a gerar estudantes curiosos,
reflexivos e autônomos que exploram e analisam criticamente o mundo ao seu
redor. Estudantes que questionam, que exploram possibilidades, capazes de
transformar realidades. Como afirma Paulo Freire, "A educação não muda o
mundo; ela muda as pessoas que vão mudar o mundo".
……………………………………………………………………………………………………………..
[1] HAUSER, Arnold. Historia
social de la literatura y del arte. Tomo 1. 23.ed. Colombia: Colección
Labor, 1994. p.46-53.
[2] Pérez Duque, Margarita María. El taller: espacio de producción, lugar de construcción del
conocimiento. Actas de Diseño N°5. Año III, Vol. 5. Buenos Aires,
Argentina. Julio 2008.
[3]“Artesanía
de la antigua Grecia.” Wikipedia, La enciclopedia libre. 15 abril 2021. <https://es.wikipedia.org/wiki/Artesan%C3%ADa_de_la_Antigua_Grecia>.
[4] HAUSER, Arnold. Historia
social de la literatura y del arte. Tomo 1. 23.ed. Colombia: Colección
Labor, 1994. p.305-315.
[5] HAUSER, Arnold. Historia
social de la literatura y del arte. Tomo 1. 23.ed. Colombia: Colección
Labor, 1994. p.389-425.
[6]
BRAVO, Néstor. El concepto del taller. <http://acreditacion.unillanos.edu.co/CapDocentes/contenidos/NESTOR%20BRAVO/Segunda%20Sesion/Concepto_taller.pdf>
[7]
PASEL S., ASBORNO S. (1993). Aula taller. Ciudad Autónoma de Buenos Aires,
Argentina: Aique Grupo Editor.
[8]
“Taller educativo.”
Wikipedia, La enciclopedia libre. 25 abril 2021. <https://es.wikipedia.org/wiki/Taller_educativo>.
[9] GONZÁLEZ CUBERES, María Teresa. (1989) El taller de los talleres, Aportes al
desarrollo de talleres educativos. Buenos Aires, Argentina: Editorial
Estrada.
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